Todos os pretos se parecem, feat. Serena Williams

A tenista e sua irmã Venus, presentes no Oscar deste domingo, foram confundidas pelo "New York Times"

FONTEFolha de São Paulo, por Denise Mota
Serena Williams na estreia do WTA de Lexington — Foto: Dylan Buell/Getty Images

Acontece quando te dizem que você é parecida com a Chimamanda, mas depois – olhando melhor – comentam que seus traços têm tudo a ver com a Zezé…, apesar de que, no final das contas, seu jeitinho é mais o da Maju, e a Lupita bem que poderia ser a sua irmã.

Acontece quando juram que te viram em lugares onde seria improvável que estivesse, em atividades na qual não tem o menor interesse, em horários impossíveis. Que até te fizeram um tchauzinho, mas – veja só – foram ignorados. Também acontece em versão invertida: lá vem o aceno de um desconhecido, e você olha para trás e não há ninguém, o negócio é contigo mesmo.

É um fenômeno muito conhecido entre os negros e que em casa ainda na infância me lembro que alcunhávamos – entre o pesar, a indignação e o sarcasmo-de-sobrevivência – de “todos os pretos se parecem”.

E aconteceu até com Serena Williams, a tenista mais famosa do mundo e que, ao lado da irmã Venus, será uma das apresentadoras do Oscar neste domingo, 27. A história de infância das duas, pontuada pelo sacrifício dos pais, é a tônica de “King Richard: Criando Campeãs”, cinebiografia indicada a seis estatuetas, incluindo melhor filme, ator (Will Smith) e canção original (Beyoncé e Darius Scott Dixson).

Mudar a narrativa

A vencedora de 23 Grand Slams divulgou no início deste mês mais um empreendimento, Serena Ventures, dedicado a impulsionar startups a partir de um fundo de capital de risco comprometido com o fomento à diversidade no universo financeiro e tecnológico.

O “New York Times” tratou da iniciativa em uma reportagem, mas o texto repercutiu muito além do esperado por outro motivo: em vez de uma fotografia de Serena, o diário estampou um retrato da não menos conhecida Venus.

“Não importa o quão longe tenhamos chegado, somos lembradas que não é o suficiente”, comentou Serena logo depois, em sua conta de Twitter, com uma reprodução do texto – e da foto – no jornal.

“Foi por isso que eu angariei US$ 111 milhões para o @serenaventures. Para apoiar empreendedores que são ignorados por sistemas arraigados, lamentavelmente inconscientes de seus preconceitos. Porque até eu sou ignorada”, escreveu. E finalizou com um recado ao periódico: “Vocês podem fazer melhor do que isso”.

publicação admitiu o erro e afirmou que a imagem equivocada havia saído apenas na edição impressa e que seria corrigida.

Em uma entrevista à Bloomberg TV na última segunda-feira (21), a tenista retomou o assunto e classificou o episódio como uma “oportunidade” para evidenciar a invisibilização de mulheres e negros. “Por isso quero fazer a diferença, porque podemos. Precisamos de pessoas como eu e minha equipe para assinar os grandes cheques e mudar essa narrativa.”

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