Bahia: Trabalho e Sociabilidade

Fonte: Raizes Africanas –

Por Cecília C. Moreira Soares*

Cecília C. Moreira Soares fala sobre o empreendedorismo de mulheres negras em Salvador. Foto: João Alvarez

 

A escravidão estabeleceu diversas formas de exploração do africano na condição de escravo. Muitas dessas pessoas eram mulheres, que independente da condição de gênero foram exploradas e obrigadas a criarem estratégias de sobrevivência nas ruas de Salvador, cujas práticas são ainda observadas no cotidiano da cidade, principalmente para a maioria pobre e inserida no trabalho informal.


As ruas da cidade eram ocupadas por negras escravas e libertas que comercializavam diversos produtos de primeira necessidade.

Já as mulheres libertas experimentavam uma situação no ganho diferente das escravas, pois no seu trabalho não interferiam os senhores e os produtos da venda lhes pertenciam totalmente. As libertas comercializavam produtos como hortaliças, verduras, peixes, frutas, comida pronta, fazendas e louças. Haviam certas posições nesse pequeno comércio cuja margem de lucro era bastante generosa, a exemplo das negras peixeiras.


Além de circularem com tabuleiros, gamelas e cestas habilmente equilibradas sobre as cabeças, as ganhadeiras ocupavam ruas e praças da cidade destinadas ao mercado público e feiras livres, onde vendiam de quase tudo. Em 1831, foram destinadas ao comércio varejista com tabuleiros fixos as seguintes áreas urbanas: o campo lateral da igreja da Soledade, o campo de Santo Antonio em frente à Fortaleza, o largo da Saúde em frente à roça do Padre Sá, o campo da Pólvora, O largo da Vitória, o largo do Pelourinho, o Caminho novo de São Francisco, a praça das Portas de São Bento, largo de São Bento, largo do Cabeça, a praça do Comércio, o Caes Dourado. Para peixe e fatos de gado e porco foram unicamente destinados o campo em frente aos currais, no Rosarinho, ou Quinze Mistérios, a praça de Guadalupe, a praça de São Bento, o largo de São Raimundo e a rua das Pedreiras, em frente aos Arcos de Santa Bárbara.


É esse o cenário que se repete nos dias atuais onde encontramos mulheres negras inseridas no pequeno comércio, em pontos fixos ou ambulantes, disputando as duras penas, um lugar digno e capaz de prover o sustento. São muitos os doutores, economistas, administradores, comerciantes, descendentes de famílias de quitandeiras, quituteiras e vendedoras, que conseguiram criar condições para que seus filhos superassem os estigmas da escravidão e de uma sociedade que resiste à inclusão de negros e negras, em lugares historicamente ocupados por não-negros.


*Cecília C. Moreira Soares é doutora em antropologia

Matéria original

+ sobre o tema

Protesto contra decisão de juiz do Rio acontece em Salvador

O Movimento Negro da Bahia realiza, nesta quarta-feira (21/5),...

“A presença Negra em Alagoas” faz resgate das raízes históricas alagoanas

“A presença Negra em Alagoas”  Livro foi organizado pelos...

Racismo se mantém velado

Minas tem uma denúncia a cada dois dias, mas...

para lembrar

Iniciativas de combate à intolerância e racismo são premiadas no Rio

Prêmio Osé Mimo 2017 homenageou 27 personalidades e premiou...

Consciência Negra e a luta de Quilombos pelo reconhecimento

Jornal GGN - Desde o reconhecimento do governo de comunidades...

Jovem quilombola da Paraíba vence concurso nacional de fotografia

O pôr do sol do Sertão paraibano ganhou destaque...

Unegro: 30 anos de luta pela igualdade racial, de gênero e de classe

A União de Negros pela Igualdade (UNEGRO) é uma...
spot_imgspot_img

João Cândido e o silêncio da escola

João Cândido, o Almirante Negro, é um herói brasileiro. Nasceu no dia 24 de junho de 1880, Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul....

Levantamento mostra que menos de 10% dos monumentos no Rio retratam pessoas negras

A escravidão foi abolida há 135 anos, mas seus efeitos ainda podem ser notados em um simples passeio pela cidade. Ajudam a explicar, por...

Racismo ainda marca vida de brasileiros

Uma mãe é questionada por uma criança por ser branca e ter um filho negro. Por conta da cor da pele, um homem foi...
-+=