Transexuais da América Central buscam refúgio nos EUA

As duras histórias de quem tem medo de perseguição e morte em seus países de origem

Da Carta Capital 

No Brasil 70% dos transexuais assassinados são profissionais do sexo (Foto: Antônio Cruz/ Agência Brasil)

Joanne Stefani, de 27 anos, deixou Honduras há um mês e, após viajar em uma caravana migrante, chegou, junto com dezenas de transsexuais centro-americanas, à cidade mexicana fronteiriça de Tijuana (nordeste) com o sonho de obter refúgio nos Estados Unidos.

“Somos as mais vulneráveis, por discriminação, por medo de que nos matem (…) Tive amigas, muitas amigas que foram assassinadas por homofóbicos e pela polícia militar”, comenta Joanne enquanto está sentada junto com um reservatório de água da casa onde passaram a primeira noite.

No domingo passado, chegou um grupo de cerca de 75 transsexuais e alguns homossexuais a Tijuana. Foram os primeiros a chegar à fronteira com os Estados Unidos depois de percorrerem o México como parte de uma caravana que chegou a somar cerca de 7.000 pessoas, segundo as Nações Unidas, mas que se fragmentou. “Deixei minha mãe e minha irmã. Tomei a decisão de um dia para outro”, lembra Joanne.

Na casa, há migrantes de El Salvador, Honduras e Guatemala. Suas histórias são similares, todas lembram episódios de ódio e perseguição, que será seu principal argumento para solicitar refúgio nos Estados Unidos um momento, em que o presidente Donald Trump está decidido a deter as caravanas que percorrem o México. Ela nunca havia saído de seu país e também não queria emigrar.

“Não somos delinquentes, emigrar não é um delito. Queremos um melhor futuro para nós e pensamos que nos Estados Unidos poderíamos ter essa oportunidade”, explicou.

Durante o trajeto, elas sofreram agressões dentro da caravana, à qual milhares de pessoas se juntaram, incluindo famílias inteiras e mulheres grávidas, para se sentirem mais seguros em sua passagem pelo México, marcado pela violência criminal. “Fomos ameaçadas, disseram que queriam nos matar”, denunciou.

Com a ajuda de alguns advogados americanos, conseguiram se separar da caravana e se alojar em uma casa de Playas de Tijuana. No entanto, o temor persiste.

“Não podemos sair, temos medo. Ontem duas companheiras as ameaçaram. Foram comprar e lhes disseram que não podiam sair na rua, que se as vissem as matariam”, relatou.

O guatemalteco César Mejía, que é homossexual, pede compreensão. “Não viemos incomodar os mexicanos”, disse.

Caso os Estados Unidos lhes neguem o refúgio, eles já pensam em um plano B. “Voltaremos à Cidade do México, porque o presidente, tanto o que está agora (Enrique Peña Nieto) como o que entrará em dezembro (Andrés Manuel López Obrador), nos prometeram que podiam ajudar com documentação mexicana e com trabalho”, argumentou Mejía

+ sobre o tema

Suposto serial killer diz que está com vontade de matar, afirma delegado

Preso há quase uma semana, ele ainda pediu bebida...

Luta por terra é apontada entre violências contra negras no Brasil

Isabela da Cruz cresceu no Quilombo Invernada Paiol de...

Sônia Correa: Em nome do “maternalismo”, toda invasão de privacidade é permitida

Cresce entre feministas históricas e grupos que atuam em...

para lembrar

Seminário reúne mulheres para discutir economia e política no Rio de Janeiro

Quando o sol nasce, a mulher negra desce morro...

Uganda desiste de aplicar pena de morte para homossexuais

Governo não vai mais propor ao Parlamento esse tipo...

Flup vai promover encontro entre as escritoras Bernardine Evaristo e Conceição Evaristo

A 14ª edição da Flup, a Festa Literária das Periferias,...

Chinês realiza sonho de mudança de sexo aos 72 anos

Um chinês de 72 anos decidiu que nunca é...
spot_imgspot_img

Prêmio Faz Diferença 2024: os finalistas na categoria Diversidade

Liderança feminina, Ana Fontes é a Chair do W20 Brasil, grupo oficial de engajamento do G20 em favor das mulheres. Desde 2017, quando a Austrália sediou...

Dona Ivone Lara, senhora da canção, é celebrada na passagem dos seus 104 anos

No próximo dia 13 comemora-se o Dia Nacional da Mulher Sambista, data consagrada ao nascimento da assistente social, cantora e compositora Yvonne Lara da Costa, nome...

Mulheres recebem 20% a menos que homens no Brasil

As mulheres brasileiras receberam salários, em média, 20,9% menores do que os homens em 2024 em mais de 53 mil estabelecimentos pesquisados com 100...
-+=