Por medo ou falta de informação, algumas mulheres demoram a procurar atendimento médico resultando em diagnóstico tardio
“Descobri enquanto falava pelo telefone com a minha irmã gêmea.” Foi assim que, em março deste ano, a concurseira Kamila Vicenzi Andrade, 29 anos, que mora na Asa Sul, soube que havia algo errado com a mama. Enquanto conversava, ela encostou a mão próximo ao seio esquerdo, sentiu um caroço e comentou com a irmã. Durante o banho, confirmou a alteração. Porém, ela procurou ajuda médica apenas cinco meses depois.
“Achei que o caroço, assim como veio, fosse sumir. Não dei importância. Nesse período, viajei e só voltei após alguns meses. Apesar do resultado, não me deixei abalar. Com o tratamento, passei muito mal, com enjoo, tontura. Meu cabelo e os cílios caíram. Passarei pela mastectomia dupla. Mas sei que é uma condição temporária.”
Ainda careca, ela conta que mandou confeccionar uma peruca com os próprios cabelos, antes de começarem a cair. “Tinha o cabelo longo. Pra mim foi mais difícil cortar para fazer a peruca do que raspar depois. Minha prima também cortou e juntamos.” Sobre a autoestima, ela diz que nunca esteve tão confiante. “Minha autoestima aumentou. Uso batom forte, sou vaidosa. Além da peruca, ponho um lenço na cabeça, me maquio. Também mudei minha alimentação, cortei doces, fritura e bebo muita água. O câncer só alcançou o meu corpo, não a minha alma”, concluiu sorridente.
A irmã, Karina Vicenzi, servidora pública, se atentou para fazer exames após a doença de Kamila. Ela descobriu que possui uma mutação genética do tipo BRCA 1 – o mesmo que acometeu a atriz Angelina Jolie em 2015. É um gene falho, que aumenta consideravelmente o risco de desenvolver câncer de mama e ovários. Para evitar esse sofrimento, ela também se submeterá à mastectomia, assim como Kamila.
O choque foi muito grande, mas tentei ficar tranquila e seguir todas as recomendações. Procurei um oncologista, fui indicada para cirurgia de mastectomia. Realizei seis sessões de quimioterapia. Tomei 17 vacinas que bloqueiam as células cancerígenas, falta uma. Depois disso, entro com hormonioterapia por cinco anos.”
Kamila Vicenzi Andrade
Moradora de Taguatinga, a analista de sistemas Luciana Andrade Mariano, 40 anos, descobriu em julho de 2016, em um exame de rotina, que estava com a doença. Segundo ela, a médica achou confusa a mamografia, pediu para repetir e fazer mais detalhado. Aí veio o diagnóstico. “O choque foi muito grande, mas tentei ficar tranquila e seguir todas as recomendações dela. Procurei um oncologista, fui indicada para cirurgia de mastectomia. Realizei seis sessões de quimioterapia. Tomei 17 vacinas que bloqueiam as células cancerígenas, falta uma. Depois disso, entro com hormonioterapia por cinco anos”, detalhou.
No Distrito Federal, a estimativa é de 1.020 novos casos de câncer de mama por ano. Números do Instituto Nacional do Câncer (INCA) mostram que, em 2016, foram 67,74 novos casos a cada 100 mil mulheres. O de mama é o mais frequente nas mulheres do Centro-Oeste após o de pele. É também a maior causa de morte por câncer nas mulheres em todo o mundo. O DF continua sendo a quarta unidade da Federação com mais registros da doença.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal informa que o tratamento na rede pública é feito no Hospital de Base e nos regionais de Sobradinho, Taguatinga e Gama. A pasta afirma que não há fila de espera por exame de mamografia – até agora, foram realizados 29.320 em 2017.
RISCO PARA OS HOMENS
O câncer de mama também acomete homens. Fatores como alterações hormonais, idade e hereditariedade podem influenciar na doença, que apresenta sintomas parecidos ao tipo feminino. Os casos são mais raros no sexo masculino por conta da mama menos desenvolvida e ter níveis reduzidos de hormônios femininos. Eles representam cerca de 1% do total de casos da doença.
Em um dia comum, o militar reformado R.X.F, 69 anos, morador de Águas Claras, passou a mão no peito direito e sentiu uma espécie de “espinha interna”, um caroço vermelho que nasceu do dia para a noite, como ele prefere dizer. Como teve um caso de câncer de mama na família, logo veio a suspeita. “Minha mãe morreu por conta da doença e como acompanhei todo o processo, pensei que poderia ser câncer de mama. Mas isso porque tinha conhecimento sobre o caso. Fui ao mastologista e, com diagnóstico confirmado, em sete dias já estava operado. Não existe campanha para homem, mas é algo que precisa ser dito e informado. Muitos nem sabem que a doença existe”, destaca.
O diagnóstico veio em setembro de 2006. R. passou por 36 radioterapias, retirada da mama, quatro sessões de quimioterapia e seis anos tomando pílulas anti-hormonais. Em 2012, acabou o tratamento, mas mantém o acompanhamento médico e aguarda o tempo de remissão.
O oncologista Marcos França, do Hospital do Câncer Anchieta, relata que a maior parte dos tumores em homens é mais agressivo. Por conta da mama atrofiada, a doença pode se espalhar para outros órgãos com maior facilidade. “Eles geralmente não observam as mamas e muitos não sabem que podem, sim, desenvolver esse tipo de câncer. Por conta da demora no diagnóstico, a maioria dos casos são descobertos em estágios avançados. Caso o homem sinta alguma alteração nessas regiões, é preciso buscar ajuda médica. Os exames mais indicados são o ultrassom e a biópsia”, aponta.
A forma de prevenção é a mesma das mulheres. Ter hábitos saudáveis, controle de peso, e evitar bebida alcoólica e cigarro. O tratamento também é similar, com quimioterapia, radioterapia, cirurgia e hormonioterapia.