Três tigres, presentes! por Leila Lopes

Hoje, o Brasil perde três ativistas fundamentais para o desenvolvimento etnosustentável da nação. Um o tempo levou, os outros dois as mãos assassinas enviadas pelo consórcio da extração ilegal de madeiras no interior do Pará.

Abdias do Nascimento, o Ogum vivo que viveu para nos ensinar a nos libertar das mazelas do racismo, cultuado por uma etnia que se vê perfeita, que se baseou em traduções orientadas de um livro sagrado para escravizar, espezinhar toda uma outra etnia. Na qual para nos firmarmos definimos como Raça Negra.

Hoje, Chorei ao me recordar o quanto sofri racismo e não sabia,o quanto minha mão sofreu de racismo e não sabia, de quanto minha família quilombola sofria de racismo e não sabia. Foi através de um livro do Gabinete do então Senador Abdias do Nascimento, que comecei a conhecer a história do meu povo, da minha raça negra. Quanto mais eu lia,mais pensava, mais me descobria, mais relia, mais decidia, que daquela leitura em diante eu queria ser uma candace, queria lutar não apenas pela minha causa estudantil, eu queria lutar era a nossa luta, a luta do povo negro pela liberdade, liberdade de sermos tratados com igualdade na sociedade. Chorei pela perda deste professor, deste boca no trombone, deste ser que conseguiu entrar em uma universidade quando negras e negros estavam lavando o chão ou trabalhando no cais do Porto como estivadores ou empregadas domésticas que dormiam no emprego, sem direito algum em troca de cama e rala comida, pois para ela tudo contado e muitas ainda sendo seviciadas por seus patrões e por todos os homens da família que iam aos domingos no churrasco familiar. Abdias teve sua chance e a aproveitou bem, mas não aproveitou apenas para si, aproveitou e multiplicou para outros negros e negras deste país e sensibilizou brancos e brancas para se juntarem a luta de combate ao racismo. Aquele livro que guardo até hoje em meu quarto e vez e quando dou uma relida é minha biblia de referência,só tenho o volume IV, lembro que busquei encontrar outros volumes, mas eram tão escassos e achoque quem os tinha na mão,mesmo que fosse um volume apenas não os dava, não emprestava, pois sei que aquelas páginas foram o alcorão,a biblia, a CLT, a constituição, o Estatuto da Igualdade Racial que tinhamos em nossas mãos. Passaram-se anos e eu ali na mesma luta combatendo o racismo e todas as formas de preconceitos, conheci muitos Oguns e Xângos, como muitas Iansãs e Obás, que doaram suas existências para a libertação do povo negro no Brasil e no Mundo. Mas a Ironia do Destino me fez conhecer muitos griôs no qual me inspirei para ainda acreditar que é possível um sociedade sem racismo, sexismo e xenofobia, mas como ia dizendo quis o destino que eu conhecesse Abdias Nascimento pela sua escrita e não o conhecesse ali no físico, conheci e nossos espíritos são amigos próximos, pela leitura do que escreveu e isto já deveria me bastar, porém, hoje chorei por que, senti que não me bastava apenas nossos espíritos serem grandes amigos, eu tinha ainda a esperança de um dia pedir sua bença e dizer: Muito Obrigada.

Em relação ao Casal Maria do Espírito Santo da Silva e José Claudio Ribeiro da Silva, assassinados hoje no Pará, eu quero denunciar, denunciar o anunciado e a conivência do Estado para a violência contra lideranças, nativas da Terra em que nasceram,que aprenderam a ler no Mobral e que se tornaram lideranças por naturalidade. Não leram Marx, nem Lenin, nem Rosa de Luxemburgo, nem Prestes, só o que fizeram foi terem a sabedoria de lerem que sua forma de viver e de seu povo estava sendo desmatada deforma destrutiva e que era necessário fazer algo. E fizeram e muito fizeram tanto que acabaram mortos de forma violenta sem terem um escolta diariamente, o que na minha opinião realmente não seria necessário se o País tivesse um respeito pela natureza e a justiça prevalecesse, mas não; mesmo ambos já terem feito denuncias de ameaças de morte, continuaram a sua luta e sem proteção. Apenas com apertos da mão de poíticos em época de campanha e ainda sabe-se-lá se não são os mesmos mandantes do assassino que lhes ceifou a vida e a militância de preservação da Amazônia, das castanhas, do açaí, dentre outros.

O Estado do Pará não deveria ser agraciado com o Estado, ele deveria ter uma intervenção nacional e ser refeito, pois lá me parece que reina a impunidade,pois assim foi com Irmã Doroty, ela que de passagem ao que vou dizer, mas só deu repercussão por que a mesma era de outra nacionalidade. Lá terra sem lei, Se tiver que matar para extrair o máximo de madeiras da Terra que assim seja,não dá nada, pega este caminhão passando cheio de toras aqui, enquanto do outro lado de barco passa meio acre. Em vésperas de uma votação do novo Código Penal, assassinar estas duas lideranças deixa cada vez mais nítido que o Brasil, precisa é de Justiça, mas não uma justiça que tapa sol coma peneira e faz istas grossas para a corrupção. Tem que prender, tem que terminar com o extrativismo capitalista,que só usurpa nossas riquezas naturais. Também com o Estado bancando uma Belo Monte, o que eu quero, que o Estado do Pará tome vergonha e se limpe se não conseguimos nem nos entender sobre o código florestal, a punição ao grandes fazendeiros que devem horrores de impostos e ainda mandam matar.

Tána hora deacabar coma impunidade no brasil.

Cansei.

Espero que estes assassinatos sirvam de momento de reflexão e de ação para que pare esta onde de assassinatos contra lideranças dos movimento sociais.

 

Fonte: Lista Racial

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