Trocamos seis por meia dúzia*

Por: Hamilton Borges

Olha , a Prudência me manda calar, a boa educação política e a maturidade me dizem para fingir que não vi. Mas eu moro aqui, na ” Bahia de todos nós” e não posso trair o que sou.


Tenho registrado os avanços da política de segurança pública em meu Estado. De tão cruel ela chega a parecer um monstro invisível que todos sentem a presença e todos temem o toque fatal.

É assim, quando tudo fracassa em termos de um Estado Democrático de Direito entra o Direito Penal com seu Fuzil apontando para a cidade. (Emanuel 2010). Deveria, segundo a melhor regra chegar educação, saneamento, lazer, mas eu garanto, o que tem chegado em nossas comunidades é o poder punitivo do Estado, com a morte.

Ontem a Comunidade do Engenho Velho de Brotas parou o trânsito na Avenida Vasco da Gama. Tocaram fogo em tudo para chamar a atenção da situação em que vivemos de violência extremada que parte da polícia do Estado da Bahia.

Em tempos de eleições nos calamos, acreditamos na tática eleitoral de fingir-se de morto para “não dar bala ao inimigo”. No caso específico aqui o inimigo é o DEM, o Democratas, partido do Carlismo e de uma Bahia antiga que combatemos.

O problema é que ninguém explicou isso direitinho nas comunidades segregadas em que vivemos, onde a polícia mata em cima de simples suspeitas, onde somos controlados por conta da cor da pele, da ginga ancestral e insurgente que carregamos, como a memória de Zeferina.

Ela que por menos disso queimava fazendas e fardas da brigada militar que é a mesma simbologia e “modus operandi” da RONDESP que matou esse garoto em questão, aqui onde eu moro. Criaram a Policia Militar do Estado da Bahia para combater Zeferina em Pirajá, de lá pra cá eles não param mais. Nem com o advento de uma Nova Bahia.

Parece que ouço as gargalhadas do Secretário de Segurança Publica Cezar Nunes, o xerife da Bahia, responsável direto pela matança em curso. Parece que ouço o silêncio avassalador de autoridades negras que podiam dizer algo pela vida, da turma dos Direitos Humanos silenciadas por cargos públicos e recursos para OCPS e ONGs que podiam forçar nas reuniões com Jaques Wagner ou Pinheiro e Lídice da Mata a idéia de uma outra política de segurança pública não-racista como essa que combatemos desde 2006.

Ao menos Republicana como o Governador gosta de bradar, nesse caso que colocasse um Estado Penal mínimo, garantista, democrático como reza a norma constitucional, com o mínimo de princípios que tutelassem os direitos fundamentais, como queriam a turma constituinte originaria.

Mas não! Todos colocam seus adesivos de uma chapa branca (no sentido racial mesmo) e fazem sua caminhada por uma nova Bahia.

Uma nova Bahia de cadáveres pretos, uma nova Bahia em que as comunidades segregadas pela fome, pelo lixo, pelo álcool e pelas drogas se vêem ocupadas militarmente por uma polícia que mata.

Não, não faço aqui apologia a velha Bahia. De fato trocamos seis por meia dúzia e ainda levamos milhões de defuntos como saldo.
Tenho que ir levantar fundos para tirar um parceiro das grades, antes que o matem ou ele apodreça.

 

 

Fonte: Afropress

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