A turma dos maduros, ao menos na idade, entende muitíssimo de portas. Principalmente daquelas duronas que insistem em não abrir. Não por ter faltado senhas, orações, murros, pé de cabra. Pois, na vida de todos, vários sonhos, projetos, boas intenções simplesmente não ultrapassam o umbral que os levariam a trilhar um corredor linear e iluminado. Sem pegar pesado com a memória, eu poderia facilmente confeccionar uma lista das 10 Portas que Nunca Abriram para Mim. A de ganhar dinheiro foi a principal delas.
Por Fernanda Pompeu No Yahoo
É fato que ser barrado por uma porta frustra, decepciona, deprime, enjoa. Faz com que projetos e desejos – acalentados e trabalhados – em vez de sairem à luz, sejam condenados à gavetinha escura. Para não dizer obscura. Aí fica impossível pular a fase do mea culpa, minha máxima culpa. E das consequentes perguntas: o que eu fiz de errado? sou tão ruim assim? a sorte se esqueceu de mim?Mas passado o choque, percebemos que até fizemos tudo correto, consideramos o contexto e seguimos o figurino. A maior responsável pelo fracasso foi a danada da porta que, soberana, não se moveu um milímetro.
Eis uma lição utilíssima que aprendemos na fase madura: nem tudo depende do nosso empenho e arte. Nem todas as portas respeitam a nossa vontade. Diria que muitas delas não estão nem aí. Feitas de madeira de lei, madeira certificada, madeira de compensado. Feitas de ferro, ou de alumínio. Exatas ou empenadas, elas precisam de chaves para serem abertas. Então todo o segredo é ter nas mãos a chave certa. No entanto – se a porta não for da sua casa, da sua lojinha, da sua garagem – você terá de bater para que alguém do outro lado abra.
A vida como ela é: o alguém atrás da porta nem sempre está interessado em liberar a passagem para a paixão, o projeto, a proposta que trazemos na bagagem. Sendo honestos, nós também fechamos portas para muita gente. Fazemos isso por descuido, medo da concorrência, preguiça, maldade, ou até por preconceito. Daí, nessa história de portas, ninguém é tão vítima e nem tão culpado como gostaríamos. É bastante complicado deixar nossa marca no mundo. Mas, aos poucos, ando compreendendo que mais importante do que esmurrar portas é construir as chaves certas. Expressando de forma mais clara: fazer o melhor que pudermos. O resto o universo que decida.