Em nota, o instituto relembra que não é a primeira vez que o bloco europeu adota tal postura. Segundo a nota, na COP16 de Biodiversidade, em Cali, a União Europeia tentou impedir a inclusão de afrodescendentes no texto final. “Recuou apenas após denúncia pública de governos e sociedade civil, que classificaram a manobra como colonialista e regressiva”.
“Agora, na agenda de gênero da UNFCCC, o padrão se repete: bloqueio, apagamento e recusa em reconhecer populações afrodescendentes, sob a alegação de que não se trata de uma demanda coletiva”.
Para Geledés, “mais uma vez a população afrodescendente está sendo rifada como moeda de troca em negociações internacionais”.
Em entrevista à jornalista Flávia Oliveira, o embaixador Mauricio Carvalho Lyrio explicou que a referência aos afrodescendentes é uma prioridade absoluta do governo brasileiro, e que o país tem sido bastante vocal.
– O Brasil tem sido o condutor da bandeira da inclusão dos afrodescendentes nos acordos aqui relativos ao clima – disse Lyrio.
Segundo ele, há receio de alguns países, inclusive de países africanos, com dúvidas sobre quem seriam os beneficiários, principalmente das condições especiais. O embaixador explicou que a África, por exemplo, quer um tratamento específico para o continente, voltado diretamente para populações africanas. E há países que defendem também um tratamento especial para afrodescendentes, como é o caso do Brasil.
– Esse é um tema que nos aproxima da África, mas, ao mesmo tempo, cria uma distinção sobre quem seriam os beneficiários principais. No caso do Brasil, nós defendemos a soma de esforços: tanto os países africanos quanto aqueles com grandes populações afrodescendentes, como é o caso do Brasil, devem atuar juntos para garantir um tratamento especial para essas populações – disse Lyrio.
Mariana Belmont, Assessora de Clima e Racismo Ambiental de Geledés – Instituto da Mulher Negra, considera há uma disputa por recursos, mas por outro lado a diplomacia brasileira deu sinais aos africanos que o Brasil não tem interesse nessa disputa de recursos.
– Isso deveria abrir caminho aos africanos não se oporem a menção a afrodescendentes. Já que a menção institucionaliza o reconhecimento que a população existe e está entre as mais vulnerabilizadas e precisam de politicas publicas.
A menção de afrodescendentes voltou a estar nos rascunhos de adaptação por conta das organizações afrodescendentes e o Estado brasileiro.
Segundo uma pesquisa do Centro de Pesquisa Aplicada em Direito e Justiça Racial da FGV Direito SP, em parceria com o Geledés – Instituto da Mulher Negra, a normativa climática internacional ignora a dimensão racial da crise climática. Dos 115 documentos entre 1992 e setembro de 2025, apenas 23% deles mencionam os afrodescendentes, e 95,6% das referências à questão racial estão em documentos sem força legal.