Uerj investiga denúncias de fraude no sistema de cotas

Universidade abre nove sindicâncias; ONG alerta para falsidade na declaração de raça

Por: RUBEN BERTA

RIO – Uma das primeiras universidades a adotar o sistema de cotas em seu vestibular no país, a Uerj convive agora com suspeitas de irregularidades no seu processo de seleção. A Sub-reitoria de Graduação da instituição instaurou nove sindicâncias desde outubro do ano passado para apurar denúncias de fraude na concessão do benefício no vestibular 2013. Três investigações foram iniciadas na semana passada e devem ter os trabalhos encerrados até o fim de fevereiro. Outras seis já teriam sido finalizadas, mas a assessoria de imprensa da Uerj não deu detalhes sobre as conclusões nem sobre o objeto preciso dos inquéritos.

Apesar de a questão vir sendo tratada de forma discreta pela universidade, o diretor-presidente da ONG Educafro, frei David dos Santos, acredita que os casos apurados se referem a alunos que supostamente mentiram a raça para poderem se beneficiar das cotas. Na Uerj, 20% das vagas são reservadas a estudantes negros e indígenas; 20% para oriundos da rede pública de ensino; e 5% para pessoas com deficiência e filhos de policiais civis, militares, bombeiros militares e de inspetores de segurança e administração penitenciária, mortos ou incapacitados em razão do serviço.

É um problema grave. Infelizmente para cada 20 denúncias que surgem, a Uerj só abre uma sindicância. E nem sabemos que fim essas apurações levam. Já reclamamos, apelamos para o governador (Sérgio Cabral), que pediu providências à reitoria. São pessoas brancas que se autodeclaram negras. Entendemos que, para ter direito às cotas, não basta dizer que tem um bisavô negro. É preciso provar com seus traços físicos alega Frei David.

A lei mais recente de cotas na Uerj, de dezembro de 2008, afirma que ficou mantido o procedimento de declaração pessoal para fins de afirmação de pertencimento à raça negra. Ou seja, a informação é passada pelo próprio candidato no processo de inscrição. Mas o texto também ressalta que cabe à administração universitária adotar as medidas disciplinares adequadas nos casos de falsidade.

Falsidade ideológica

Para Frei David, a questão teria que ser tratada com mais seriedade pela Uerj. Ele acrescenta que desde o início das cotas na instituição são constantes os relatos de possíveis fraudes:

A primeira denúncia que nos chegou foi de um aluno jovem de classe média alta, branco e honesto, que ficou indignado ao ver colegas que burlaram o sistema. Temos dois motivos claros para o quadro atual: falsidade ideológica motivada por donos de cursinhos caros e omissão do poder público em fazer uma séria fiscalização.

O presidente da Comissão de Educação da Alerj, deputado Comte Bittencourt (PPS), disse que vai pedir formalmente à Uerj detalhes sobre o conteúdo das investigações:

É uma política afirmativa que ainda traz muito debate na sociedade e precisamos de transparência completa.

Fonte: O Globo

+ sobre o tema

Desigualdade de acesso aos direitos humanos começa no nascimento

A Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 75 anos...

Lei 10.639 completa 21 anos reafirmando-se como marco na luta da população negra

A Lei 10.639/2003, também conhecida como Lei do Ensino da...

Torta de climão

Conversa vai, conversa vem, dia desses uma conhecida relatou...

Moçambicana lança rap pelos 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Não deixe ninguém para trás, ou “Leave no one...

para lembrar

Educação, relações étnico-raciais e a Lei 10.639/03

Por Nilma Lino Gomes Introdução A Lei nº 10.639/03 que estabelece...

Ministério Público pode adotar cotas para negros

Segundo o promotor da Bahia Fábio George Cruz da...

Nota de alunos que ingressam na UFMG pela cota já supera a dos não cotistas

Cotistas que garantiram uma vaga na UFMG neste ano...
spot_imgspot_img

Somente 7 estados e o DF têm cotas para negros em concursos públicos. Veja quais

Adotadas no Executivo federal, as cotas raciais nos concursos para entrada no serviço público avançam em ritmo bem lento nos outros níveis de governo,...

Unilab, universidade pública mais preta do Brasil, pede ajuda e atenção

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) surgiu com a proposta de fazer a integração de alunos de países africanos de língua...

As cotas abrem portas

Um rápido passar de olhos nas fotos da comemoração da aprovação do projeto que reformula a Lei de Cotas nas universidades federais pela Câmara,...
-+=