Um amor que bagunce meu cabelo e não minha vida

Eu, mais que tudo, quero um amor que compartilhe das coisas pequenas, aquelas sutis e um tanto amenas, mas que fazem o dia ter sentido.

Por Loui Kelly Do Casal Sem Vergonha 

Quero um amor que me dê atenção enquanto eu explico porque o Batman é muito mais herói que o homem aranha e que não se incomode com o fato de eu falar nisso com a mesma paixão que “discurso” sobre a revolução francesa. Porque eu sou assim…apaixonada por tudo.

Quero um amor que não tenha medo de gargalhar em público, de transar no chão frio da sala numa tarde quente, ou de rir de si mesmo ao bater a coxa em algum móvel. Quero um amor que faça minha pele arrepiar ao toque, que me envolva por inteira, que me faça mergulhar de cabeça, que me coma , me prove e me deguste.

Um amor que não use roupa engomada, sapato encerado ou cabelo cuidadosamente ajeitado com gel, porque eu gosto mesmo é de desestrutura, de conforto, de aconchego e de um bom moletom. Ah, e que tenha um apego ridículo e infantil por aquela camiseta surrada de alguma banda dos anos 90.

Alguém que ouça Beatles mas não resista a um sambinha chorado. Que me acorde com uma xícara de café preto, que não estranhe meus livros espalhados pelo quarto, que me proteja com o casaco, caso esteja chovendo do lado de fora e com os braços, se a chuva estiver dentro de mim.

Quero um amor, que veja minha feiura mas não desapaixone pela minha beleza. Que goste de amanhecer devagar e dormir no sofá em domingos de chuva. Alguém que faça picnic na calçada, no meio de uma madrugada quente de verão e que não se importe caso a comida consista em cachorro quente e guaraná. Que conte boas histórias, mas que não ignore a beleza do silêncio.

Que abrace forte, que mantenha perto, mas que saiba reconhecer meu espaço. Que repare do tamanho da minha saia, mas não reprima minha liberdade de usar o que quiser, de ser o que quiser… e me ame por isso.

Que traga flores em dias sem significado aparente. Não aqueles buquês enormes, que alimentam floriculturas capitalistas (se é que isso existe), apenas aquela rosinha miúda, catada no muro da esquina, aquele furto pequeno que acredito até ter perdão divino.

Alguém que tenha vida própria, porque isso é ótimo e saudável. Mas que não me engavete para vivê-la. Que consiga respeitar os próprios limites e me encaixar numa rotina ajustada, leve e confortável.

Alguém que não atue, a não ser nas festas de família e para encenar alguma piada. Que seja nítido, sem reservas, que se entregue, que se deixe enxergar. Gente que tem vida dupla uma hora não consegue administrar e deixa a máscara cair. Que se assuma, com falhas e qualidades.

Eu quero alguém com quem dividir os dias não seja complicado e completamente desafiador, mas que também não seja tedioso e monótono, ainda que rotineiro. Que aprecie momentos, mas não seja desleixado com o futuro. Que me leve para viver, que respeite minha preguiça para assuntos chatos, que me mantenha em seu peito até a ultima lágrima escorrer, que faça as malas e viaje comigo, que me entenda, que me envolva, que me inspire a escrever e que mesmo assim, me deixe sem palavras…extasiada. Eu quero um amor que bagunce meu cabelo e não minha vida.

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