Um ano depois, morte de Kobe Bryant tem causa esclarecida, mas processos se acumulam na Justiça

FONTEGlobo Esporte
Morte de Kobe Bryant motivou criação de lei — Foto: Ronald Martinez/Getty Images

Quem é o culpado pelo acidente que causou a morte de Kobe Bryant e outras sete pessoas no dia 26 de janeiro de 2020? No dia em que a tragédia completa um ano, a pergunta ainda não tem uma resposta definitiva, uma vez que diversos processos referentes ao caso ainda correm na Justiça. No principal deles, Vanessa Bryant, viúva do ex-jogador, pede uma indenização milionária à empresa responsável pelo translado, a Island Express Helicopters.

Peritos investigam destroços do avião que matou Kobe Bryant — Foto: NTSB/Handout via REUTERS

Paralelamente a isso, as famílias dos demais passageiros também buscam reparação judicial pela tragédia. Do outro lado, a defesa contratada pelo irmão de Ara Zobayan, o piloto do helicóptero do fatídico acidente, acusa os tripulantes da aeronave de responsabilidade pela fatalidade, uma vez que estes foram alertados sobre as difíceis condições de voo.

De certo estão apenas as investigações sobre a queda do helicóptero, as quais apontaram “causa acidental” como motivo do acidente – o relatório final deve ser publicado em fevereiro deste ano. Ainda no ano passado, a autópsia detectou que Ara Zobayan estava sóbrio e que não houve falha mecânica, o que pode ser determinante para os próximos desfechos judiciais.

Sem falha no motor

Em fevereiro do ano passado, menos de um mês depois do acidente, uma investigação do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos Estados Unidos apontou que não houve falha no motor do helicóptero. Segundo o Los Angeles Times, os investigadores acreditam que as hélices funcionavam bem no momento do impacto. A partir desse dado, a agência passou a investigar uma possível desorientação do piloto no momento do acidente, uma vez que havia muita neblina no local da queda.

A aeronave saiu do aeroporto John Wayne, em Los Angeles, às 14h06 do dia 26 de janeiro de 2020 com destino à pista de pouso em Camarillo, cerca de 128km distante de onde Kobe e os outros sete passageiros partiriam para um torneio de basquete. No último contato feito por Ara Zobayan, no momento em que sobrevoava sobre Calabasas, a aeronave voava em condição visual especial a 1.500 pés (450 metros).

Destroços do helicóptero espalhados no morro onde ocorreu o acidente — Foto: NTSB/Handout via REUTERS

Piloto estava sóbrio

Em maio, o Departamento de Medicina Legal de Los Angeles divulgou o resultado da autópsia nos corpos das nove vítimas. Segundo o órgão, Ara Zobayan estava sóbrio tanto para bebidas alcoólicas quanto para substâncias toxicológicas como drogas ilícitas ou tranquilizantes. Tal laudo fez com que a causa das mortes foi confirmada como “acidental”.

Na época, no entanto, diversos pilotos afirmaram que Zobayan não deveria estar voando a uma velocidade tão alta no nevoeiro ofuscante.

Ara Zobayan, o piloto do voo de Kobe Bryant — Foto: Reprodução/Imagem retirada do site GE)

Nevoeiro confundiu piloto

Em outra investigação, o Departamento de Medicina Legal de Los Angeles concluiu que um nevoeiro atrapalhou Ara Zobayan, que pode ter pensado que o helicóptero estava subindo quando na verdade estava caindo.

Segundo os investigadores, um pouco antes do acidente Zobayan informou ao controle de tráfego aéreo que estava “subindo para 4 mil”. O controlador perguntou o que ele pretendia fazer quando chegasse àquela altitude, mas o piloto não respondeu.

Imagens do local do acidente em Calabasas, Califórnia — Foto: Departamento de Polícia Los Angeles

Kobe decidiu antecipar voo

Segundo o jornal britânico Daily Mail, Kobe Bryant mudou o horário de saída do seu voo e o adiantou em 45 minutos na noite anterior à tragédia. Bryant pediu à sua assistente pessoal, Cate Brady, que remarcasse a saída do helicóptero Sikorsky S-76B de 9h45 para 9h, no horário local. O helicóptero que carregava nove pessoas caiu pouco antes das 10h do horário local, em Calabasas.

Contudo, Cate Brady, em seu depoimento em 19 de fevereiro, reiterou que nem Bryant nem ninguém de sua família pressionaram o piloto para que o helicóptero decolasse com mau tempo. No dia anterior, Ara Zobayan teria recebido informações de que o mau tempo poderia ser um problema para a viagem, mas enviou mensagem de texto a Bryant dizendo que as condições estariam “ok” para o voo.

Murais em homenagem a Kobe e Gianna Bryant estão espalhados por Los Angeles — Foto: Brian Rothmuller/Icon Sportswire/Getty Images

Vanessa Bryant cobra milhões na Justiça

Viúva de Kobe Bryant e mãe de Gianna Bryant, outra vítima do acidente, Vanessa Bryant entrou com processo contra a Island Express Helicopters pedindo uma indenização milionária pela morte do marido e da filha. Na ação, ela acusa Ara Zobayan de ter sido negligente no acidente. Além disso, Vanessa alega que a empresa falhou em obter informações sobre o clima e não cancelar o voo.

A viúva também afirma que tem direito a ganhos futuros que ela e sua família perderam com a morte do marido. Segundo a Forbes, Kobe tem uma fortuna avaliada em U$S 600 milhões, o equivalente a R$ 3,2 bilhões na cotação atual.

Vanessa Bryant discursa em cerimônia de homenagem a Kobe — Foto: Kevork Djansezian/Getty Images

Família de Zobayan contra-ataca

Em meio a várias acusações contra Ara Zobayan, a família do piloto não deixou por menos. Advogados contratados por Berge Zobayan, irmão do piloto, entraram com ação na tentativa de responsabilizar os tripulantes pela fatalidade ocorrida em 26 de janeiro do ano passado.

A defesa do piloto alega que os oito passageiros do helicóptero estavam cientes dos riscos de voar com condições baixas de visibilidade, o que causou a queda. A defesa pediu também que o processo movido por Vanessa Bryant seja julgado improcedente, uma vez que a viúva de Bryant acusa Ara de negligência.

Carros de bombeiros próximos ao local do acidente de helicóptero — Foto: Departamento de Polícia de Los Angeles

Demais famílias também processam

Familiares dos demais passageiros do helicóptero também moveram mais dois processos judiciais contra as empresas que possuíam e operavam as viagens da aeronave. Os dois processos ocorrem um em nome de três membros de uma única família, enquanto que o outro é de uma mulher que ajudava nos treinos de basquete de Gianna Bryant.

Diferentemente da ação movida por Vanessa Bryant, os dois novos processos não nomeiam Ara Zobayan, ou seu representante, como réu. As acusações das famílias alegam apenas que as corporações foram descuidadas e negligentes no acidente.

Vanessa é processada pela própria mãe

Além das ações judiciais referentes ao acidente, as mortes de Kobe e Gianna Bryant geraram uma disputa dentro da própria família de Vanessa. Em dezembro, a viúva do ídolo dos Los Angeles Lakers começou a ser processada pela própria mãe, Sofia Laine, que acusa a filha de falta de apoio financeiro desde a tragédia.

Laine, que diz ter sido “assistente pessoal e babá de longa data” para a família Bryant afirma ainda que Kobe havia prometido cuidar de sua sogra “pelo resto da vida”, o que deixou de ser feito após sua morte. Em entrevista à People, Vanessa classificou o movimento judicial da mãe como uma tentativa de extorsão da fortuna da sua família.

Vanessa e Kobe Bryant em família — Foto: Reprodução/Instagram

Surge a Lei Kobe Bryant

Quatro meses após o acidente, Vanessa moveu outro processo, dessa vez contra Polícia de Los Angeles por divulgar fotos da tragédia sem a autorização da família. Em setembro, o governador Gavin Newsom aprovou, na Califórnia, a “Lei Kobe Bryant”, que torna ilegal os primeiros socorristas fotografarem pessoas mortas na cena de um acidente ou crime.

A lei entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2021 e agora um socorrista que for julgado e culpado pela violação poderá pagar uma multa de até U$ 1000 (R$ 5.643).

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