Um ano sem solução

Por: Cristina Camargo

Empresário ainda não consegue punição para ataques racistas feitos pelo Orkut

O empresário João Francisco Xavier, 57, escolheu a última terça-feira (27 de abril) para descobrir o que aconteceu com uma denúncia grave sobre a pratica de racismo virtual.

A escolha da data teve uma razão: na terça-feira fez um ano que o dono de empresa de formação de vigilantes descobriu as ofensas feitas por meio do Orkut e tomou as providências que achava adequadas.

No meio do ano passado, Xavier relatou o caso ao BOM DIA. Estava indignado com a falta de providências quatro meses após ter procurado a polícia com as cópias das ofensas, o ataque virtual gravado e uma suspeita de autoria.

 

Na terça-feira, foi diferente. Ele foi ao 2º DP (Distrito Policial) acompanhado do advogado José Hermann Schroeder e saiu satisfeito. Orkut, para descobrir o IP (Internet Protocol) do responsável pelas ofensas.

 

“A gente percebe que a apuração está andando. A passos lentos, mas andando”, comemorou na saída. A alegria durou pouco. O empresário e o advogado terminaram a tarde no Fórum, onde foram verificar a tramitação do pedido de quebra de sigilo. Tiveram uma surpresa, desta vez negativa: o pedido foi arquivado.

 

Agora, Xavier precisa esperar a resposta a um pedido de desarquivamento para saber o que aconteceu e tentar reverter a decisão. Está indignado, mas reafirma o que já havia dito: vai até o fim.

Ele considera que o ataque feito pelo Orkut foi a pior manifestação de racismo que já enfrentou. Um internauta que usou o pseudônimo de “Catturandi Polizia del stato”, referência à polícia italiana, deixou 19 recados na página com afirmações racistas, xingamentos e ameaças.

 

“Olha o macaco aí… Mete uma bala nessa coisa aí… Quer banana quer?”, escreveu num comentário.

 

Além de ficar chocado com a agressividade, Xavier não se conforma com a dificuldade em conseguir que as providências legais sejam tomadas. “Sou empresário, conhecido e sinto essa dificuldade. Imagine uma pessoa que não tem voz”.

 

Ministério Público cobra dados do Google
O Ministério Público Federal de São Paulo cobra do Google dados de pesquisa sobre remoção de conteúdo da internet. Segundo estudo da empresa, o Brasil é o líder de pedidos para remover conteúdos.

 

O Grupo de Combate aos Crimes Cibernéticos do Ministério Público enviou ofício pedindo cópia dos dados fornecidos e que subsidiaram os números sobre o país constantes do relatório Google Requests, realizado e publicado pela empresa.

 

A procuradora da República Priscila Costa Schreiner, coordenadora do Grupo do MPF responsável pela investigação de casos de pornografia infantil e racismo na internet, questiona se os números citados se referem especificamente aos crimes de pornografia infantil e quer saber de que tipo de casos tratam os outros números sobre o país.

 

A distribuição de pornografia infantil na Internet é crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente.

 

Segundo a Constituição, o crime de racismo é inafiançável e a pena para quem incita a discriminação ou o preconceito por meio da Internet é de dois a cinco anos.

Xavier já atuou como vigilante
Xavier estava em Presidente Prudente na última terça-feira, mas decidiu voltar para Bauru e visitar o distrito policial no primeiro aniversário do ataque racista.

 

Em Prudente fica a filial da Marajox, empresa que ele abriu em 2006 e já formou mais de 16 mil vigilantes.

 

Ele mesmo já trabalhou como vigilante, em São Paulo. Foi quando percebeu a possibilidade de investir no setor. Também já foi militar e hoje recebe alunos de todo o país.

Bem sucedido após uma vida de esforços, não aceita a manutenção da prática do racismo. Chega a acreditar que o fato de ser um negro de sucesso provoque incômodo e os ataques.

“Sou negro, era pobre e atuava como vigilante. De repente virei empresário, sou conhecido no Brasil inteiro. Dói para algumas pessoas ver onde cheguei”, disse ao BOM DIA no ano passado.

A Marajox emprega cerca de 40 pessoas, entre funcionários diretos e indiretos [os instrutores].

“Em pleno século 21 isso ainda acontece…”, lamenta Xavier sobre os ataques que nunca mais vai esquecer.

 

 

Fonte: Bom Dia

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...