Um Conselho de Educação obscurantista

A democracia implica no reconhecimento da multiplicidade cultural, étnica e religiosa vivenciada em nosso país. A existência efetiva de diferentes grupos, representantes desta multiplicidade, está garantida através da liberdade de poderem manifestar sua religião e sua cultura. Povos, até então marginalizados, são convidados agora a compor nossa matriz cultural como brasileiros e não como simples adereço exótico.

por: Márcio Lorinarquiteto urbanista

A convivência em um ambiente onde as relações são reguladas por princípios democráticos proporciona visibilidade a grupos minoritários, tais como: indígenas, quilombolas, homossexuais e outros, não tão minoritários, como os negros e as de mulheres. Lembremos que estas últimas só conquistaram o direito ao voto em 1934. É neste contexto que se encontra em curso a conquista da cidadania, cenário este que acaba por imputar questões até então eclipsadas por uma cordialidade cínica, típica da “Casa Grande”.

O conhecimento deste processo nos mostra que forças antagônicas operam em seu interior e seus atores ocupam posições conservadoras ou progressistas. A violência, muitas vezes, é resultado destas oposições e empregada como mecanismo de opressão pelo estado, onde a força policial atua como instrumento de resolução desta conflitividade social.

Mas a violência que gostaria de ressaltar aqui é aquela violência velada, praticada por convenção, como um contrato coletivo e introjetado por determinado grupo dominante no interior da sociedade. Esta violência não tem por objetivo a imolação física do outro e sim o apagamento simbólico deste. Esta forma de anulação simbólica é extremamente perversa, pois promove a aniquilação da presença do outro no universo do imaginário coletivo da sociedade.

O Conselho de Municipal de Educação de Maringá optou pela prática religiosa específica no início de suas reuniões, mesmo diante de lúcidos protestos de um único membro, a prática foi à votação e pasmem: aprovada por 12 x 1! Ao instituir este tipo de procedimento, o CME fere o Estatuto da Igualdade Racial, ignorando a multiplicidade cultural e religiosa de uma sociedade, a qual tem a obrigação de representar.

A atitude de ignorar o mosaico religioso-cultural que compõe nossa sociedade possui duas explicações: a primeira é que o conselho, em quase a sua totalidade, desconhece a história da educação, no que tange a sua laicização e desconsidera a multiplicidade de concepções religiosas presentes em nossa cultura: isto é assustador. A segunda é mais assustadora ainda: o conselho entende a concepção judaico-cristã de mundo como universal e, a partir disso, assume uma postura de intolerância religiosa.

Desta forma, este conselho pactua em torno da anulação simbólica do outro, neste caso: todas as outras convicções religiosas não contempladas nas correntes cristãs. Evidentemente, isto é uma afronta aos princípios democráticos, uma atitude preconceituosa, violenta e obscurantista. Resta-nos uma pergunta: são estas pessoas que decidirão sobre políticas públicas relacionadas à educação em Maringá?

Fonte: Blog do Rigon

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