Um novo olhar para os jovens nordestinos

Mudar uma cultura impregnada ao longo de décadas não é tarefa fácil, que o diga a jornalista Ana Márcia Diógenes, coordenadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância(UNICEF) nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, instituição onde atua há mais de uma década, num trabalho contínuo que envolve muito esforço e ideologia, na busca constante por melhorar a vida de milhares de crianças e adolescentes que vivem no semiárido brasileiro. Foi numa dessas andanças pelo Rio Grande do Norte, enquanto articuladora do Selo Unicef município Aprovado, que ela reservou um tempo para conversar com nossa equipe de reportagem, provocada a fazer uma análise da situação da infância no Nordeste brasileiro.

Para Ana Márcia, antes de tudo, a problemática da infância começa com uma questão de cunho cultural. “A forma histórica de ver o Nordeste contribuiu muito para que houvesse uma distorção sobre o que somos e o que temos. Creio que isso contribuiu muito para os indicadores que temos hoje”, enfatizou. Ou seja, a imagem do nordestino fugindo da seca, com vários filhos, enchendo as periferias dos grandes centros urbanos, terminou por definir no imaginário social uma espécie de sub categoria, como se o nordestino fosse um sujeito de menor valor. “As pessoas acham bonitas as louras de olhos azuis, mas somos descendentes de índios e negros, que também têm sua beleza, com sotaque. Esse é o nosso jeito de ser”, disse.

DESAFIO

Essa visão distorcida, criada ao longo do tempo pela história e estimulada através de veículos como a televisão, por exemplo, precisa ser trabalhada, transformando-se num grande desafio. “É preciso mudar a cultura, a escola, a família, a gestão publica”, ensina, lembrando que este é um processo lento. “As diferenças culturais e sociais se refletem em questões como o racismo, e essa é uma grande discussão, não é simples”, relatou, lembrando que, por causa disso, o Unicef lançou uma campanha contra o racismo, de forma a trabalhar melhor a criança, vendo ela na sua individualidade.

Aliado a questão cultural, ela aponta como clássicos os problemas enfrentadoss, tais como educação, saúde e proteção. “O acesso a educação e aos postos de saúde melhorou, mas falta qualificar estes serviços”, relata, lembrando que uma das grandes preocupações do Unicef é justamente esta qualificação. Por isso o esforço na mobilização dos municípios, através de estratégias como o selo Unicef, que premia os municípios com os melhores indicadores sociais na infância e adolescência. “O Selo Unicef Município Aprovado representa uma grande plataforma para a qualificação do serviço, com grande impacto. É um vetor de mobilização cultural”, explicou, lembrando que muitos gestores constroem escolas e postos de saúde, “mas o grande problema é a qualidade dos serviços, a manutenção adequada, a presença de profissionais preparados nestes espaços”, citou.

Além da qualificação dos serviços, o Selo também procura interferir na mudança cultural, buscando a valorização das pessoas, o reconhecimento da riqueza das manifestações culturais, a beleza da gente nordestina, com seus traços herdados de uma mistura de raça que só deve fazer é orgulhar quem nasceu nestes lugares. “É preciso valorizar o que a gente tem”, reforçou.

Fonte: Tribuna de Norte

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