Uma questão de gênero

A presença de mulheres como candidatas à vice-presidência nas principais candidaturas dizem muito da questão de gênero no Brasil. Não há dúvidas de que ela é efeito das lutas feministas no país nos últimos 50 anos. Parece que, da direita  à esquerda, a presença da mulher é uma garantia de “modernidade” e mais votos.

por Céli Pinto (*) no Sul21

“Ainda está intacto o poder político dos homens no Brasil”. (Foto: Reprodução)

Então, a  presença de Ana Amélia Lemos na chapa de Alckmin tem a ver com as mulheres e com as lutas do feminismo?  Não e sim. Não, porque ela representa, na verdade, a tentativa de entrada do candidato tucano no sul e centro-oeste do agronegócio. Sim, porque, entre as camadas mais conservadoras do país, eleitores da senadora, seria impensável ter uma mulher como candidata à vice-presidência antes do protagonismo das mulheres no Brasil, efeito das lutas feministas.

Os movimentos sociais, ao contrário dos partidos, não têm controle sobre os efeitos que provocam em geral. Um partido de esquerda nunca terá um candidato  de direita e vice-versa. Mas isso não impede que, como efeito dos movimentos feministas e dos movimentos negros,  mulheres antifeministas  e negros que não reconhecem o racismo sejam candidatos. Isso não se pode controlar, faz parte da regra do jogo. Nós temos o poder de abrir as portas, mas não é possível escolher quem vai passar por elas.

No entanto, a presença das mulheres tem um outro lado. Como aconteceu na última eleição para  reitor na UFRGS, todo homem que pretendia ser eleito carregava atrás de si uma mulher como vice. Agora repete-se o mesmo fato em esfera nacional, mostrando que ainda temos muito a lutar, já que os espaços de poder continuam de domínio dos homens, geralmente brancos, geralmente de classe média ou pertencentes à burguesia, geralmente conservadores quanto a questões comportamentais e éticas.

Nós, mulheres, não queremos ser vice de ninguém, não lutamos para isso. Reconhecemos que nossa presença é resultado de nossas lutas, mas ainda está intacto o poder político dos homens no Brasil.

(*) Professora Titular do Departamento de História da UFRGS

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