Uma TV conservadora e para conservadores racistas

AS INJÚRIAS RACIAIS DIRIGIDAS À ATRIZ TAIS ARAÚJO DEMONSTRAM TAMBÉM O QUÃO CONSERVADORA É A EMISSORA DE TV ONDE ELA TRABALHA. ALGUNS DE SEUS COLEGAS NÃO ACREDITAM QUE EXISTA RACISMO NO BRASIL.

Enviado por Mailson Ramos via Guest Post para o Portal Geledés

Há poucos dias, o jornalista Alexandre Garcia disse que no Brasil não havia racismo até a criação das cotas.

Tanto ele como Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, não acreditam nesta história de que os negros sofrem ainda uma injusta discriminação social.

Das duas uma: estão descolados da realidade brasileira ou são simplesmente dissimulados.

Na TV onde trabalham existem inúmeros casos de racismo e discriminação.

Num dia desses, a jornalista Maria Julia Coutinho, que divide espaço com Garcia e Kamel no Jornal Nacional, foi alvo de injúrias raciais.

Agora a vítima foi a atriz Tais Araújo. Seu perfil pessoal no Facebook foi invadido porcomentários racistas.

Ela recebeu o apoio de muitos colegas e ganhou certamente o apoio dos fãs. Deverá também depor na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI).

Cabe aqui, porém, fazer uma ressalva sobre o papel da TV Globo, onde trabalha a atriz, no fortalecimento do discurso racista de conservadores não mais enrustidos, mas soltos pelo país afora.

Eles são os mesmos que criticaram a redação do ENEM; são aqueles que entendem as cotas raciais como uma política pública indevida e, portanto, ineficaz; são fanáticos pela suástica, contra os refugiados e as minorias.

Quando se diz que o racismo não existe no Brasil dá-se a entender que, se ele existe, deve ser perdoado ou é normalmente praticado com todas as suas vicissitudes.

Os artistas, bem como as pessoas simples, sofrem discriminações quase sempre. São agressões cujo conteúdo está disfarçado na linguagem, na cultura ou no ideário do brasileiro, sobretudo o conservador.

Negar a existência da casa grande e da senzala, ainda hoje, é um erro histórico.

E fazê-lo diante de milhões de telespectadores é conceder aos conservadores um contraditório inexistente.

Combustível para que eles continuem agredindo mais pessoas por um preconceito doentio.

Nas manifestações que a TV Globo fez questão de cobrir – em abril e depois em agosto – não tinha um só negro. Seria mera coincidência?

Não. A emissora dos Marinho representa a voz e o discurso dos setores mais conservadores desta sociedade.

Eles não gostam do Brasil de pobres e negros. Não querem que, sob as cotas, filho de gente humilde entre na universidade.

Entendem tudo como assistencialismo.

E se tornam tão intransigentes que não podem suportar o sucesso de uma mulher negra.

Mas é ainda mais do que isso.

Eles encontram espaço na internet para disseminar sua aversão ao mundo de ideias igualitárias.

A TV os educa a pensar que no Brasil não há racismo.

Mostram-lhes estereótipos, atores negros como serviçais nas novelas, um elitismo sem igual num programa juvenil de fim de tarde, onde se subentende que jovens brasileiros negros não existem ou não devem aparecer na telinha.

O discurso de repúdio da TV Globo às injúrias recebidas por Tais Araújo só seria bem visto se não houvesse na própria emissora um repúdio aos negros.

E uma ratificação deliberada ao discurso conservador.

leia também:  “Todo preconceituoso é covarde. O ofendido precisa compreender isso”, Mario Sergio Cortella

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