Em 2011, não entrou nenhum aluno de escola pública na Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu
A Unesp é a primeira universidade estadual paulista a estabelecer metas de inclusão de alunos de escolas públicas e de minorias étnicas. A instituição aprovou linhas gerais do projeto lançado pelo governo paulista, que prevê atingir 35% de matrículas de estudantes da rede pública no próximo vestibular em cada curso, chegando a 50% até 2016. Nesse grupo, deverá ser respeitada a proporção censitária de pretos, pardos e indígenas do Estado, que é de 35%.
Historicamente, as universidades de São Paulo sempre rejeitaram qualquer ideia próxima à reserva de vagas. Em 2012, lei federal instituiu as cotas nas instituições federais. Depois disso, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) exigiu que os reitores criassem uma proposta, que veio a ser o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp).
O plano, apresentado por Alckmin ao lado dos reitores, não fala em cotas, mas em metas. O governador, no entanto, garantiu que o objetivo é reservar as vagas para cotistas.
As outras universidades estaduais – USP e Unicamp – ainda não deliberaram sobre o programa, que também está em debate nas Faculdades de Tecnologia (Fatecs) e de Medicina de Marília (Famema) e Ribeirão Preto (Famerp).
A Unesp é a universidade do Estado com mais estudantes de escola pública. Em 2012, por exemplo, 37,7% dos calouros cursaram o ensino médio nas redes municipais, estadual ou federal (os números deste ano ainda não foram divulgados). Mas a distribuição por curso não segue a mesma lógica. Das 90 vagas de Medicina, só duas foram ocupadas por alunos de escola pública. Em 2011, não havia nenhum estudante com esse perfil. O reitor da universidade não atendeu ao pedido de entrevista do Estado. No último vestibular da USP, 28,5% dos candidatos da rede pública passaram. Já na Unicamp, essa taxa foi de 33,3%.
Alternativas
O Conselho Universitário da Unesp vai agora se debruçar sobre como atingir as metas. Os dirigentes querem mais informações sobre o college – curso semipresencial de dois anos por onde 40% dos alunos de escola pública passariam antes de ingressar na graduação tradicional.
O college faz parte do Pimesp e tem sido o principal alvo de críticas, até de docentes. Na USP, por exemplo, as Faculdades de Medicina e Direito e a Escola Politécnica já o rejeitaram.
Por causa das críticas, o professor Carlos Vogt, presidente da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), que vai gerenciar o curso, já fala em desvincular o college do Pimesp. Vogt diz que sua criação será levada adiante como forma de expandir a oferta de vagas no ensino superior paulista. “Os cursos poderão ou não ser adotados pelas universidades para cumprir as metas. As instituições têm liberdade para escolher as estratégias de inclusão.”
O presidente da ONG Educafro, frei David dos Santos, comemorou. “A Unesp foi capaz de rever suas posições e sabemos que a sociedade amadurece quando isso acontece. Ao darmos oportunidade para alguém lá de baixo, provoca-se uma mudança em toda a estrutura.”
Já para o sociólogo Simon Schwartzman, o Pimesp é “bem superior” à política federal de cotas. Por outro lado, ele critica a adoção do critério racial também pelo governo paulista. “É um equívoco, mas essa me parece uma batalha perdida.”
Para os alunos, os principais afetados, a decisão dividiu opiniões. “Quem vem de escolas públicas precisa se esforçar três vezes mais”, diz Lucas Batista, de 20 anos, aluno de Artes Visuais da Unesp que estudou na rede pública. A vestibulanda Mariana Fonseca, de 18, diz que é um incentivo para se esforçar mais. “Ajuda muito quem não teve oportunidades estando em escolas públicas ruins”, diz ela, que sempre estudou na rede e hoje faz Cursinho da Poli para tentar uma vaga em Engenharia ou Relações Públicas.
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Fonte: Estadão