Universidades públicas de São Paulo vão propor cotas de 50% a partir de 2016

Objetivo é igualar os porcentuais estabelecidos pelo governo Dilma Rousseff às federais na Lei de Cotas

Por: Breno Pires

As três universidades públicas paulistas, USP, Unesp e Unicamp, fecharam na quinta-feira proposta que será apresentada nesta semana ao governador Geraldo Alckmin para adoção de um programa de cotas que destinará 50% das vagas a alunos que cursaram integralmente o ensino médio em escolas públicas. O objetivo é igualar os porcentuais estabelecidos pelo governo Dilma Rousseff para as universidades federais na Lei de Cotas.

A afirmação é do reitor da Unesp, Julio Cezar Durigan, membro do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp), que vinha discutindo o plano desde o início de outubro, quando o governador pediu a sua formulação, após a regulamentação da Lei de Cotas – que só se aplicas às instituições federais de ensino.

A proposta estadual, assim como a lei federal, leva em conta critérios econômicos e raciais de inclusão. Metade das vagas reservadas seria para estudantes com renda familiar igual ou inferior a 1,5 salário mínimo por pessoa; e 35%, para pretos, pardos e índios.

“A proposta para o programa de cotas já foi escrita e vai ser apresentada nesta semana ao governador. Estamos fazendo o mesmo que o governo federal, mas com mais qualidade”, afirmou Durigan, em entrevista ao Estado. Atualmente reitor em exercício, ele já foi nomeado para assumir formalmente a reitoria pelos próximos quatro anos, a partir de janeiro.

Segundo Durigan, o documento será entregue ao governador por Luiz Carlos Quadrelli, secretário em exercício de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia de São Paulo, pasta à qual as universidades estão ligadas.

A reportagem solicitou entrevistas com os reitores da USP, João Grandino Rodas, e da Unicamp, Fernando Costa, mas não foi atendida. A assessoria de imprensa da USP não confirmou as informações passadas por Durigan. A Unicamp, em nota, resumiu-se a dizer que uma comissão criada recentemente pelo Cruesp discute uma proposta preliminar sobre inclusão social.

Segundo Durigan, o projeto se basearia em dois pilares: qualidade, por meio de reforço no aprendizado, e permanência, por meio da concessão de bolsas de cerca de um salário mínimo.

“Temos de dar duas condições para eles: um reforço de aprendizado, porque eles vêm com deficiência na sua formação, e uma garantia de bolsa para que eles permaneçam no curso, pois não adianta nós incluirmos esse aluno e ele não conseguir ficar porque a família dele não tem condições”, diz Durigan.

Preparação. O reforço poderia ser dado de duas formas. Uma delas seria um curso preparatório anterior à entrada na universidade, de um ou dois anos, para o aperfeiçoamento em matérias que já são dadas no ensino médio, mas que já valeria como um curso de nível superior – como os “colleges” do modelo americano, segundo Durigan.

A outra proposta é dar um reforço paralelo após a entrada na universidade, nas disciplinas em que o aluno tiver tirado nota baixa no vestibular.

A estimativa do plano é que 40% dos selecionados pelas cotas farão o curso preparatório anterior e 60% irão para a universidade diretamente após o vestibular, com a possibilidade de reforço paralelo.

“O curso preparatório anterior à universidade seria como um college e daria um diploma de nível superior a esses alunos, um diploma intermediário. E depois eles estariam aptos a entrar na universidade ou poderiam entrar no mercado de trabalho”, explicou Durigan.

Sobre o diploma que o estudante obteria após a conclusão do college, Durigan afirmou que ele permitirá prestar concurso público com nível superior.

Ele defende que é melhor fazer esse curso do que um cursinho pré-vestibular. “O que nós queremos é levar esse aluno para cima. Os alunos que entram nos vestibulares mais concorridos já ficam dois ou três anos no cursinho. Os alunos que vão fazer o reforço antes da universidade não vão fazer um cursinho, mas um curso voltado ao trabalho. Apostamos nesse college prévio porque o indivíduo sai com formação. Se quiser, pode ganhar dinheiro, prestar concurso público. Se ele quiser progredir mais, tem a oportunidade de fazer um curso como Medicina, Engenharia, escolhendo dentro do número de cotas disponíveis, dependendo do seu rendimento, sem precisar fazer uma nova prova.”

A seleção dos cotistas que iriam para o curso anterior à universidade poderia se dar pelo desempenho que tiverem na rede pública, pela nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou pelo Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), algo que será definido pelo governador.

As aulas do college seriam semipresenciais. As avaliações seriam presenciais, mas a maioria do curso seria a distância, pelo sistema da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Entre as disciplinas adiantadas por Durigan estariam matemática, física, química, português e redação, filosofia, inglês e, possivelmente, iniciação à pesquisa.

“É uma mudança de paradigma. Queremos incluir gente que normalmente não entra pelo vestibular. Nós queremos prestigiar o aluno da escola pública e dar qualidade para que ele se mantenha no curso, entre em igualdade de condições e pela porta da frente. É a inclusão que nós queremos”, afirmou Durigan.

Repercussão. O presidente da ONG Educafro, frei David Santos, disse que está em contato com o diretor da Univesp, Carlos Vogt, sobre o assunto e que aprova a ideia do modelo de college, assim como a cota de 50% e a bolsa para cotistas. “Caso a proposta venha a se concretizar, o governador e os três reitores estão saindo da meritocracia injusta e adotando a meritocracia justa”, afirmou.

 

Fonte: Estadão 

+ sobre o tema

Geledés participa de evento paralelo em fórum da Unesco

Geledés - Instituto da Mulher Negra participou de evento paralelo do...

Burnout, abuso de drogas e tentativa de suicídio entram em lista de doenças relacionadas ao trabalho

O Ministério da Saúde divulgou nesta quarta-feira (29) uma atualização da...

Do Início ao Reconhecimento: A trajetória do Portal Geledés

Em 1988, tomei conhecimento do Geledés no Tribunal Winnie...

Fuvest 2024: confira as notas de corte da 1ª fase do vestibular

As notas de corte da 1ª fase do Vestibular 2024 da Fuvest foram...

para lembrar

Dennis de Oliveira: Ambivalências raciais e midiatização da sociedade

Ambivalências raciais e midiatização da sociedade1 Dennis de Oliveira2, Intercom Resumo: Este...

Ser branco é uma fonte inesgotável de privilégios sociais

por Ricardo Rego no Jornal Sol O Brasil discute por estes...

Luana Tolentino: Caso de Domingas ilustra bem a oposição às cotas

Domingas Mendes teve seu ingresso negada pela UFRGS, mas...

Cotas raciais são um avanço, e não um retrocesso

O assunto das cotas volta a ser polêmica na...
spot_imgspot_img

Somente 7 estados e o DF têm cotas para negros em concursos públicos. Veja quais

Adotadas no Executivo federal, as cotas raciais nos concursos para entrada no serviço público avançam em ritmo bem lento nos outros níveis de governo,...

Unilab, universidade pública mais preta do Brasil, pede ajuda e atenção

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) surgiu com a proposta de fazer a integração de alunos de países africanos de língua...

As cotas abrem portas

Um rápido passar de olhos nas fotos da comemoração da aprovação do projeto que reformula a Lei de Cotas nas universidades federais pela Câmara,...
-+=