Uma suposta abordagem policial truculenta e motivada pelo racismo está repercutindo nas redes sociais e mobilizou até a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB-MG). A vítima é Pedro Henrique Afonso, de 24 anos, que foi preso no último 30 de março, ao chegar para estudar na Faculdade de Políticas Públicas da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).
Por Danilo Emerich , do Hoje em Dia
Segundo o relato do universitário e educador no Instituto Inhotim, quando ele trancava o carro, por volta das 19h, dois policiais da 124ª Companhia do 22º Batalhão da Polícia Militar chegaram em uma viatura, já com armas em punho e o acusando de furtar o veículo. Ele reclamou da abordagem e foi algemado e acusado de desobediência, desacato e resistência à prisão. Toda a cena foi testemunhada por colegas, professores e moradores próximos, que protestaram contra a atuação policial e considerando o caso racismo, uma vez que Pedro é negro.
“Não me agrediram, mas agiram com truculência, me xingavam e nem checaram se o carro era meu mesmo. Só depois que averiguaram isso e viram que não havia nenhum impedimento com o veículo. Já chegaram falando ‘mão na cabeça, vagabundo, e cala a sua boca’ e nem me deixaram falar”, afirmou Pedro, em entrevista por telefone ao Hoje em Dia.
Na delegacia, o estudante foi ouvido pelo delegado de plantão, que marcou uma audiência de conciliação na última terça-feira (15). Ele só foi liberado após quatro horas, acusado de um crime que Pedro alega ser inocente.
O comandante do 22º batalhão, o tenente-coronel Eucles Figueireido, afirmou que não poderá se pronunciar pelo caso, uma vez que não chegou nenhuma representação formal quanto ao caso. No entanto, ele afirma ter pedido um levantamento para ver o que ocorreu.
Repercussão
O caso chocou estudantes, professores, servidores e ate a reitoria da UEMG, que chegaram a organizar, no último dia 9 de abril, um de solidariedade ao estudante. Nas redes sociais, o relato de Pedro também repercutiu, sendo compartilhado por centenas de pessoas.
Segundo Pedro Afonso, a audiência de conciliação terminou sem acordo no Juizado Especial Criminal. Foi oferecido a ele prestar serviços sociais para encerrar o caso. Agora, a Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG deverá acionar o Ministério Público para analisar o caso e também a corregedoria da Polícia Militar, contra atuação dos policiais.
“Nunca tive problemas como esse e nenhuma passagem pela Polícia Militar. Os militares estavam identificados, mas tenho medo. Procuro não andar mais sozinho e sempre vou por locais mais abertos, públicos e avisando meus pais e namorada onde estou. Quero ir em frente, pois é o preconceito que sofri não é só comigo, mas ocorre todos os dias com várias outras pessoas, inclusive já aconteceu com familiares meus e amigos próximos”, afirmou Pedro Afonso.