USP pede cancelamento de audiência sobre cotas, dizem ONGs

Encontro com entidades do movimento negro estava marcada para esta 3ª-feira

O desembargador Marrey Uint, da 3.ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, cancelou audiência de conciliação entre a universidade e entidades do movimento negro para discutir a adoção de cotas raciais no vestibular da Fuvest. O encontro estava marcado para a tarde desta terça-feira, 16, no Palácio da Justiça, centro da capital.

Participariam da audiência o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e a Educafro. O objetivo era debater um sistema de reserva de vagas para negros e pobres já na seleção de alunos ingressantes em 2013. As ONGs dizem que a reunião foi desmarcada a pedido da USP.

“A USP não está preparada para o diálogo”, afirma o diretor executivo da Educafro, Frei David dos Santos. “Vamos pedir a remarcação da audiência. Uma universidade pública não tem o direito de não conversar com a sociedade.”

A reportagem ligou para a Assessoria de Imprensa da USP por volta das 20h desta segunda, 15, mas ninguém atendeu.

Em 2004 o CEERT e a Educafro moveram ação judicial contra a USP. “Como não podíamos usar a palavra cota, porque o debate sobre reserva de vagas ainda estava inconsistente, pedimos à USP a criação de um índice eliminador de injustiça social e educacional”, diz o frei. O modelo previa a concessão de bônus no vestibular a “brancos pobres, pretos e indígenas”.

A USP não tem sistema de cotas ou mesmo de bonificação para negros no vestibular. Ela mantém um programa de inclusão para estudantes da rede pública, o Inclusp, e o considera satisfatório.

No dia 25 de setembro, o Conselho Universitário (CO) decidiu criar uma comissão para organizar seminários sobre inclusão social nas unidades que compõem a USP. Os eventos visam a discutir com a comunidade acadêmica a possível adoção de cotas no vestibular.

O grupo será nomeado pelo reitor João Grandino Rodas e contará com a participação de professores e ativistas do movimento negro. Os seminários devem culminar com a realização de um evento no qual poderão ser aprovadas propostas de modelos de reservas de vagas. Os encontros não têm data prevista para começar.

Para o dirigente da Educafro, a decisão do CO foi “mais um ato irresponsável”. “São 13 anos discutindo o assunto e a USP fazendo ouvido de mercador. Agora que viu que não tem alternativa, inventa que vai começar um debate. Isso é unicamente enrolação.”

 

 

Fonte: Estadão 

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...