‘Vá para sua terra’: xenofobia portuguesa é fruto de colonização inconclusa

O escritor Jeferson Tenório, autor de 'O Avesso da Pele'. Foto: Carlos Macedo

aumento significativo da xenofobia contra brasileiros em Portugal demonstra que os lusitanos ainda têm um acerto de contas a fazer com sua própria história. Especificamente em três temas: colonização, língua e racismo.

Enxergar brasileiros como invasores é bastante sintomático para um país que ainda não resolveu as feridas e os traumas coloniais.

A literatura portuguesa, aliás, já se debruça sobre essa questão há bastante tempo. Nos livros de autores como Lídia Jorge, Valter Hugo Mãe e Antônio Lobo Antunes, por exemplo, é possível identificar reflexões que trazem à tona as consequências das guerras coloniais em Portugal.

A lógica da colonização ainda opera no subterrâneo da sociedade portuguesa. É ainda uma ferida aberta e que muitos portugueses se recusam a olhá-la com honestidade.

É preciso reconhecer que a mentalidade colonial está inconclusa e que, talvez, olhar para os brasileiros e tratá-los como invasores seja um reflexo da própria autoimagem.

Ou seja, a ideia de alguém que invade pode ser a projeção portuguesa de colonizadores e suas práticas violentas e traumáticas nas ex-colônias.

É fácil encontrar relatos de brasileiros em Lisboa que tenham sido maltratados por taxistas, por exemplo, ao ouvirem o sotaque brasileiro, pois a língua é a outra preocupação dos portugueses.

É bastante comum ouvirmos dos lusitanos que os brasileiros não falam o português “correto”. Ou que falamos “brasileiro”, e não português.

Há um receio de que a língua seja “corrompida” por uma ex-colônia que, em termos populacionais, se tornou maior que Portugal.

O idioma é importante como um elemento de pertencimento identitário, mas é preciso reconhecer que a língua é viva, feita de muitos falares e sotaques, portanto, não existe um português correto, mas variações dele. Não existe uma língua portuguesa, existem muitas. Ao contrário de um pensamento xenofóbico, tais variações enriquecem a própria língua.

Há ainda as questões raciais que não são devidamente enfrentadas em Portugal como se esse debate não pertencesse à cultura portuguesa, como se o racismo fosse um problema dos imigrantes africanos e brasileiros, e não dos portugueses.

A discussão racial no Brasil me parece muito mais avançada, o que não significa que estamos conseguindo vencer o preconceito. É possível dizer que estamos mais conscientes das dinâmicas do racismo e sua estrutura.

Segundo o Conselho Econômico e Social de Portugal, 400 mil brasileiros moram atualmente no país, sem levar em consideração os que vivem ilegalmente – o que pode fazer este número chegar até a 800 mil brasileiros. São números expressivos se considerarmos uma população de pouco mais de 10 milhões de pessoas em Portugal.

A convivência com brasileiros é constante e o número tende a aumentar.

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