Anúncio é para trabalhar como promotora de eventos, em Campinas.
Vaga foi postada nesta quarta no grupo da Unicamp, no Facebook.
Do G1 , por Patrícia Teixeira
Anúncio para mulheres exige candidatas com nariz fino, altas e bonitas (Foto: Reprodução / Facebook)
Um anúncio de vagas para promotoras de eventos causou polêmica ao ser postado na página da Unicamp, em Campinas (SP), no Facebook. O texto ressalta “exigências” que as candidatas precisam ter, como “cabelo longo e liso, bonita, magra, nariz fino, alta e de preferência com olhos claros”.
A postagem foi feita na noite desta quarta-feira (19) e gerou manifestações entre estudantes da universidade na rede social, principalmente em relação ao racismo. Nesta quinta (20) o anúncio já havia sido retirado da página que, apesar de ter o nome da Unicamp, não é oficial. Segundo a assessoria de imprensa, a Unicamp não possui conta com página institucional no Facebook.
Para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Unicamp, a publicação foi racista.
“Nosso posicionamento é de repúdio. A gente acredita que isso contribui para perpetuar o racismo, inclusive a gente tem ele muito presente na universidade”, afirma o coordenador do DCE, Guilherme Montenegro, de 20 anos, aluno da faculdade de geografia.
A Unicamp informou ainda, por nota nesta sexta-feira (21), que também repudia “toda manifestação ou ato que implique em discriminação de qualquer natureza. Especificamente em relação a discriminação por raça, a universidade segue a legislação vigente no país”.
A instituição ressaltou que “não é responsável pelo perfil criado na rede social que divulgou o referido conteúdo e nem pela mensagem publicada”.
O G1 fez contato com o dono da postagem pela rede social, mas não teve retorno.
R$ 700 por noite
A restrita oportunidade de trabalho é para um evento de quatro dias, entre 22 e 25 de outubro, com o cachê de R$ 700 por noite, segundo o anúncio. O trabalho vai das 19h até a meia-noite.
A oferta de emprego é para maiores de 18 anos.
‘Vergonha’
Entre os comentários, alguns relacionavam as exigências do anúncio para promotoras de eventos com “barbies”. A estudante do curso de matemática da Unicamp Júlia Queiroz, de 19 anos, se manifestou pouco depois da publicação, com um post semelhante ao anúncio, criticando pessoas que colocam textos como este.
“Estou contratando gente para parar de passar vergonha no grupo da Unicamp. (…) Exigências: Maiores de 18 anos que queiram divulgar posts ou ofertas de emprego machistas, racistas ou preconceituosas e ofensivas no geral”, diz a postagem.
Aluna da Unicamp faz postagem em repúdio a anúncio de emprego racista (Foto: Reprodução / Facebook)
O G1 conversou com a estudante, que se sentiu ofendida com o anúncio por descrever uma mulher como se fosse um objeto com especificações exatas e incomuns.
“Profunda ofensa. Eu me senti ofendida por mim, pelo meu pai que é negro e me deu um cabelo crespo, boca larga e nariz grosso, e por todas as outras mulheres que se encaixassem ou não no padrão (…) A vontade era de escrever textão, mas eu preferi denunciar o post e colocar o meu repúdio em forma de sátira”, revolta-se.
Velhos padrões
O coordenador do DCE criticou de forma geral os padrões estipulados na publicidade. “É um padrão racista que exclui as pessoas negras desse espaço, e esse anúncio é sintomático disso”, afirma Montenegro.
Ele lembra que há mais brancos do que negros na universidade. “A maioria das pessoas que conseguem entrar na universidade não são negras, são brancas. A gente consegue enxergar as marcas disso inclusive no quadro de alunos”, completa.