Vale a pena salvar idiomas?

É relativamente fácil mobilizar uma multidão para salvar as baleias; mais difícil é reunir alguns gatos pingados pela preservação de bichos pouco simpáticos, como a minhoca branca (Fimoscolex sporadochaetus), que pode já ter desaparecido; o verdadeiro desafio, entretanto, é arregimentar gente para conservar um idioma.

Fonte: Folha de São Paulo 

O Brasil é um dos países campeões em línguas ameaçadas de extinção. A crer nas estimativas de Tove Skutnabb-Kangas, com 219 idiomas, somos a oitava nação mais linguisticamente diversa do planeta, ficando atrás apenas de Papua-Nova Guiné (850), Indonésia (670), Nigéria (410), Índia (380), Camarões (270), Austrália (250) e México (240).

Não por acaso, as línguas faladas por pequenos grupos indígenas em áreas tropicais são as que correm maiores riscos, a exemplo do que se dá com espécies animais e vegetais. As pressões econômicas que derrubam florestas são as mesmas que rompem o isolamento cultural de índios e os levam a fixar-se em áreas urbanas, adotando idiomas majoritários como o português.

No plano global, acredita-se que existam em torno de 6.500 línguas. Elas podem ser classificadas em três grandes grupos em relação a suas perspectivas de sobrevivência. São chamadas de “moribundas” quando já não são aprendidas pelas crianças. Estima-se que de 20% a 50% estejam nessa situação. Diz-se que estão “ameaçadas” quando se encontram em vias de deixar de ser aprendidas por jovens. E são consideradas “seguras” quando não se enquadram em nenhuma das categorias anteriores. Só 10% dos idiomas são robustos o bastante para se encaixar na última definição; 90% não sobreviverão além de 2100.

A iniciativa do IBGE de promover o recenseamento linguístico tem o mérito de mapear, para além de chutes e estimativas, os idiomas existentes no Brasil e o grau de ameaça que paira sobre cada um.

A questão é se vale a pena tentar salvar idiomas ou se o processo de concentração linguística é inexorável. Na última hipótese, só o que nos restaria fazer é colecionar o maior número possível de registros dessas línguas, para que elas não se percam inteiramente. Cada idioma, afinal, ao revelar como um grupo de indivíduos pensa e hierarquiza o mundo, é uma janela para a natureza humana.

 

+ sobre o tema

Capoeira se torna disciplina pedagógica nas escolas de Belo Horizonte

A capoeira vai ser parte do currículo das escolas...

PUC recebe inscrições para mais de 40 formações gratuitas, 100% online, com certificado

A Pontifícia Universidade Católica – PUC, do Rio Grande...

Educação Antirracista: o papel do Estado e do terceiro setor na promoção da equidade

O seminário "Educação Antirracista: o papel do Estado e...

para lembrar

A escola e o terreiro: diversidade e educação antirracista em pauta

Palestrantes Do Sesc   Stela Guedes Caputo Doutora em Educação, professora do Programa...

A Lei nº 10.639/03, em União dos Palmares

Por: Arísia Barros   Dia 23 de novembro, (amanhã) em União...
spot_imgspot_img

Escola quilombola recria jogo de xadrez com personagens históricos para valorizar a ancestralidade

Nasci, cresci e moro na Comunidade Quilombola Canabrava, no município de Flores de Goiás (GO). Por aqui, vivem cerca de 450 pessoas. Goiânia, capital...

Capoeira se torna disciplina pedagógica nas escolas de Belo Horizonte

A capoeira vai ser parte do currículo das escolas municipais de Belo Horizonte. Em 23 de setembro, foi sancionada a Lei Municipal 11.750/2024, de...

PUC recebe inscrições para mais de 40 formações gratuitas, 100% online, com certificado

A Pontifícia Universidade Católica – PUC, do Rio Grande do Sul, está recebendo inscrições para mais de 40 formações gratuitas, 100% online, com certificado....
-+=