Quando vi manifestantes derrubando a estátua do mercador de escravos Edward Colston em Bristol, senti que ela não seria a última dessa onda. Lembrou-me um assomo de ira semelhante quando, em 2015, estudantes da Universidade da Cidade do Cabo fizeram tombar o monumento ao imperialista Cecil Rhodes.
Desde então, outros protestos em universidades da África do Sul profanaram mais estátuas da era colonial. Em Oxford, no país natal de Rhodes, milhares estão protestando pacificamente para remover outra estátua dele.
Há quem considere anti-intelectual remover qualquer monumento, e argumente que essas figuras representavam os valores de sua época. Mas, e os valores de nossos tempos? Até que ponto o passado ainda controla o nosso presente?
Numa época em que cidadãos negros ainda sofrem por todo o mundo, essas estátuas – assim como as ruas com nomes de racistas – não são meros monumentos. Elas lembram aos racistas que gente que demonstrou desprezo por outros é imortalizada em bronze ou marfim. As pessoas de cor são forçadas a lembrar das coisas terríveis que os racistas fizeram.
Para mim, enquanto mulher negra, remover os símbolos do racismo é um ato necessário, que devia ter sido feito há muito tempo. No início de junho, a arqueóloga Sarah Parack tuitou sua “dica quente” sobre como derrubar um obelisco, desencadeando uma avalanche de críticas. Alguns a acusaram de encorajar a destruição da história; outros, de destruir monumentos, como fez o “Estado Islâmico” (EI).
Exigir a remoção de monumentos não é nem um pouco como a destruição pelo EI, que visava espalhar medo e executar atos de terrorismo. Pelo contrário: os manifestantes estão reivindicando a remoção de signos de opressão racial.
O derrubamento de estátuas tampouco apaga a história. É antes um protesto político contra a celebração de uma história ou presente comuns, em que um lado ainda sofre as consequências daquela história. Quem alega que remover estátuas é destruição histórica esquece que história é compartilhada: sempre há dois lados – ou mais.
Consideremos a Mohrenstrasse em minha cidade, Berlim. Uma amiga negra me disse que passa todos os dias com o metrô U2 pela estação “Rua do Mouro”, a rua dos negros. Mohr é a palavra alemã mais antiga para as pessoas de cor. Ela tem uma conotação negativa, historicamente era usada para os criados negros. Minha amiga disse que isso a faz sentir-se mal. Ela perguntou: “Por que esses nomes ainda existem?”
O racismo ainda não é história. A ferida ainda está aberta; ela nunca sarou, e nunca vai sarar se parques e universidades forem decorados com estátuas de mercadores de escravos e colonialistas. Especialmente quando a história mostrou que esses indivíduos estiveram envolvidos em coisas terríveis.
Enquanto o racismo ameaçar nossos sentimentos, nossas oportunidades e nossas vidas, tais figuras jamais poderão ser história. Remover esses símbolos, no entanto, pode desconstruir o racismo. Quem argumenta para proteger símbolos de um passado histórico racista, impede que o futuro seja melhor.
“Gatilhos” coloniais, racistas ou escravagistas são uma barreira visível à descolonização e reconciliação, pois consagram a supremacia branca em espaços públicos.
Decidir se estátuas coloniais devem cair ou nomes de ruas ser mudados não é apenas uma questão de história. Trata-se de uma chave no processo de encarar as injustiças existentes, a fim de trabalhar na direção de descolonizar o futuro.