A cubana Zuleica Romay, Prêmio Extraordinário de Estudos sobre presença negra na América e Caribe contemporâneos, Casa das Américas 2012, defendeu a necessidade de políticas culturais que enfrentem hoje estereótipos e condutas racistas.
Depois de receber o prêmio, a autora de Elogio da altea ou os paradoxos de la racialidad (Elogio ao “dantop” ou paradoxos da racialidade) afirmou à Prensa Latina que a conformação desta obra lhe permitiu constatar a reprodução de preconceitos raciais através de processos sócio-culturais que com frequência fluem encobertos.
“Tratei de compreender por que, apesar do processo de transformação social da Revolução cubana, sobrevivem esteriótipos inferiorizantes – disse – pois acho que a sistematização de nossas experiências através das ciências sociais beneficiará a todos os latino-americanos e caribenhos”, explicou a pesquisadora.
Romay – atual presidenta do Instituto Cubano do Livro – manifestou que não se trata de um livro autobiográfico, ainda que narra episódios pessoais com o objetivo de fundamentar suas teses: “penso que sobre estes temas, nos que a sociedade busca respostas às suas problemáticas mais complexas, o intercâmbio é imprescindível”, destacou.
Assegurou que para escrever o texto foi preciso se nutrir da maior quantidade de sistematizações possíveis: História de Cuba e os clássicos do pensamento social da ilha, em especial o antropólogo Fernando Ortiz; mas também as reflexões de outros âmbitos hemisféricos (Brasil, Colômbia, Peru, México…) e os relatórios de organismos internacionais.
A estudiosa – quem qualificou o Prêmio Extraordinário da Casa do mais relevante de sua curta carreira literária – manifestou à imprensa seu interesse por trazer à luz os denominadores comuns que condicionam as manifestações de preconceito e discriminação racial na América Latina e no Caribe.
Com este livro, que custou quatro anos de escrita e quase um de trabalho de campo, compartilhando com cubanos incríveis de todas as idades e camadas sociais – indicou a intelectual – e espero fazer uma pequena contribuição na luta que desde o triunfo revolucionário de 1959 se leva a cabo em Cuba pela igualdade e a plena justiça social.
Revelou, além disso, o enigma do título de sua obra: a altea (parecido ao dantop no Brasil) era uma espécie de doce coberto de chocolate, com creme branco por dentro, muito popular em Cuba na década de 80 do século passado.
“Meus colegas na bolsa (instituto pré-universitário) me chamavam de altea porque, diziam, eu era negra por fora e branca por dentro: algo que no começo me fazia rir, mas depois nem tanto”, recordou.
“Na fase adulta, e com os estudos – concluiu Romay -, me dei conta que aquele apelido carinhoso refletia a existência e reprodução na sociedade de um preconceito”.