Integrantes de legendas que têm propostas políticas diferentes, o PC do B com um discurso mais radical, e o PV com uma postura mais moderada em comparação aos comunistas, as duas candidatas à vice-prefeita de Salvador, Olívia Santana e Célia Sacramento têm em comum um histórico de luta pela igualdade social e afirmação racial, além de uma história de vida que, com poucas diferenças, também se assemelham.
Por: Kleyzer Seixas
Ambas são professoras, nasceram na mesma década, a de 60, têm origem humilde, cresceram em bairros pobres de Salvador e estudaram em escolas públicas, além de terem cursado o nível superior na Universidade Federal da Bahia.
O professor de Ciência Política de Ufba, Joviano Neto, explica que, ainda que com pesos diferentes, as duas candidatas à vice expressam uma importante trajetória de luta no movimento negro. “Olívia vem da liderança do movimento negro e é de um partido caracteristicamente de esquerda. Célia veio da militância como professora, participou da formação do movimento negro e é de um partido não caracteristicamente de esquerda, mas que surgiu como alternativa. Uma enfatizando a ação política direta, outra, o ensino. Uma com uma visão mais clara, e outra, mais light” afirma Neto.
Algumas das diferenças ficam por conta da experiência política. Enquanto a comunista já foi três vezes vereadora e secretária municipal de educação, Célia foi candidata a deputada federal em 2010. O professor esclarece que, embora ambas possuam experiência pessoal de atenção e luta no movimento, “Olivia já é vereadora pela terceira vez e Célia tem um porte politico menor”.
Os projetos que ambas têm para a prefeitura também são similares. Tanto Olívia quanto Célia têm propostas voltadas para melhorar o acesso da população negra a serviços básicos, como de saúde e educação, e de ampliar as oportunidades para as mulheres no mercado de trabalho e na educação. Possuem, igualmente, um projeto para ampliar o atendimento e acompanhamento da anemia falciforme, doença que atinge a população negra.
Na condição de vereadora, Olívia Santana tem o projeto do estatuto municipal da igualdade racial, que continua tramitando na Câmara Municipal, e segundo informou, espera vê-lo aprovado ainda este ano. “Se a Câmara não votar, vamos continuar lutando para que na próxima legislatura se garanta, porque o projeto é um elenco de propostas de políticas afirmativas ara os negros”, esclarece.
Já Célia garante que levará para o executivo municipal muitas das pautas que fizeram parte dos 20 anos de trabalho em prol da afirmação das mulheres e dos negros. Uma das suas apostas é fortalecer projetos como o “Hoje menina, amanhã mulher”, cujo objetivo é orientar e formar jovens de escolas públicas, visando a discussão, identificação e prevenção de diversas formas de exclusão social. “As mulheres estão precisando de projetos que as incluam. É importante que haja uma política de qualificação profissional para elas”, destaca.
Artistas mulheres opinam sobre vices negras
“É um avanço e um atraso. Uma cidade como Salvador há muito tempo deveria ter essa liderança. A gente não pode dizer que está num super avanço nas questões dos negros, mas acho importante duas mulheres, e principalmente negras, tendo essa possibilidade. Apesar de que, na comunidade, a mulher negra já tem destaque, e isso vai ratificar o que todo mundo já sabe nas comunidades, que as mulheres são as grandes líderes, de associações comunitárias, dos bairros. Vamos perpetuar uma certeza de que a grande força está na mulher. É um ponto positivo, que vai reverberar dentro das comunidades” (Cássia Vale – atriz, 39 anos)
“É uma conquista positiva e uma representação importante para todas as mulheres negras. É claro que há uma grande simbologia pela questão da cor, mas muito mais relevante que isto é a competência para colaborar com o desenvolvimento da cidade. É fundamental que qualquer uma das duas que assuma este cargo público tenha uma atuação participativa e defenda um espaço menos desigual.”
(Margareth Menezes – cantora, 39 anos)
Fonte: A Tarde