Entre os indígenas, imprimir um estilo próprio já se tornou regra. Para os índios do projeto Celular Indígena, o nome da novidade é etnocelumetragem. O termo esquisito quer dizer que os filmes produzidos com celular mostram o olhar dos indígenas, explica Alex Pankararu, da rede Índios Online.
Fonte: Folha de São Paulo
“Mostramos nos filmes o nosso cotidiano, mas, pela primeira vez, de uma maneira própria, com o nosso jeito de ser”. Ele acrescenta que, por meio da tecnologia, a realidade indígena pode ser apresentada de forma mais real, desfazendo mitos. “Queremos mostrar que muito do que se fala contra o índio não é verdade”.
Termos como roteiro, filmagem e edição de vídeo passaram a fazer parte do vocabulário da comunidade e, mais do que isso, foram incorporados, na prática, ao cotidiano de boa parte dela.
Prova disso é a audiência, composta por índios de todas as regiões do país -além da população não indígena brasileira e estrangeira. “Da mesma forma que o branco quer conhecer o índio, queremos saber como é vida de nossos irmãos em outras regiões”, afirma o tupinambá Curupaty Abaeté, professor de cultura indígena que participa da produção de filmes.
Os temas variam do dia a dia na aldeia à denúncia social. Os filmes produzidos são postados em uma página do YouTube e ficam disponíveis no portal da rede Índios Online. Embora ainda meio toscos, agradam a comunidade. A visão da própria imagem no vídeo parece sinalizar novos horizontes.
A audiência segue crescendo nas aldeias, afirma Alex Pankararu. Além de os índios poderem filmar e retratar seu jeito de ser, o cotidiano e a vida nas várias comunidades como bem lhes convier, o coordenador da rede Índios Online ressalta outro ganho trazido pela tecnologia: um conhecimento, até então, bem distante. “Nas oficinas trabalhamos com fotografia, edição de vídeo, roteiro e até com storyboard”.
Mas não são apenas filmes que os índios produzem. Com os aparelhos de que o projeto dispõe foi criada uma espécie de agência indígena de notícias. “Quando são convidados a participar de algum evento, fazem a cobertura integral com os celulares, áudio, fotos e vídeos”, diz Sebastian Gerlic, presidente da ONG Thidewas.
A experiência nas aldeias mostrou também que a falta de recursos pode deixar de ser um problema e se tornar o caminho para a solução. Com a falta de computadores, indígenas aprenderam a fazer edição no próprio celular. “Grande parte dos vídeos publicados em nosso portal foi editado no próprio aparelho”, conta Gerlic. (CM)