Violência: “Tá calor aí, negão”

Fonte: Folha Online –

Policiais militares foram flagrados anteontem agredindo um rapaz com um tapa e atirando água nele durante operação no morro dos Macacos, em Vila Isabel, zona norte do Rio.

 

Um comandante da PM disse que foi uma “boa ação”, para evitar “choque anafilático” (reação imunológica que pode resultar em estado de choque) da vítima. Os policiais foram filmados por uma câmera da TV Globo agredindo Leandro dos Santos Ezequiel, 18.

 

“Não foi agressão, não. A prisão foi feita, a pessoa [Leandro] não estava em flagrante, mas seria levada para verificar sua ficha criminal. Como estava muito sol, ele mesmo pediu para jogar um balde d’água”, afirmou o comandante do 6º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Fernando Príncipe.

 

De acordo com o comandante, o tapa foi dado porque Leandro ameaçava cair. “Quando jogaram a água, ele deu uma baqueada e: “Acorda aí'”, disse o PM, tentando reproduzir o tapa. “Ele pede, muito sol, corpo quente, água fria: “Acorda'”, relatou.

 

O tenente-coronel disse que Ezequiel foi conduzido à delegacia, o que foi negado pela assessoria da Polícia Civil.

 

Leandro Ezequiel é primo de Edna Ezequiel, moradora da comunidade que em março de 2007 perdeu a filha, Alana, 12, por uma bala perdida em operação da PM no mesmo morro. No mês seguinte, Edna perdeu um irmão, Hélio, 25, atingido por bala perdida em decorrência de guerra entre quadrilhas. Ele voltava do hospital onde a mulher se recuperava do nascimento de um filho.

 

“Tapas e chutes”


Na versão de Leandro, ele estava sentado no quintal da casa da mãe ao lado do primo Edmílson Ezequiel, 17, quando PMs chegaram e falaram para eles se levantarem. Segundo ele, os PMs mandaram que a mãe de Leandro e uma vizinha, que fazia visita, entrassem.

 

“Eles me perguntaram onde estava o fuzil dos traficantes. Eu falei: “Não sei não, meu senhor”. “Você sabe sim, você estava correndo com os bandidos. Onde está o fuzil dos caras?”. Repeti que não sabia. Levei tapas e chutes”, disse.

 

Ele contou que o primo também foi agredido e levou spray de pimenta nos olhos. As agressões só cessaram, diz, com a chegada de uma tia. Antes de os PMs saírem, mandaram Leandro sentar no quintal.

 

“Um deles me perguntou: “Tá calor aí, negão?” Fiquei quieto. Depois balancei a cabeça, que sim. Aí ele pediu um copo d’água e jogou em mim. Depois, veio outro e me deu um tapa.”

A assessoria da PM informou que vai “tentar identificar os policiais militares a partir das imagens” e que a Corregedoria Interna da Corporação “vai adotar uma postura sobre a ótica penal e administrativa de suas condutas”.

A competência do inquérito é do tenente-coronel Príncipe. O oficial disse que deverá fazer perícia do caso, antes de iniciar a apuração.

 

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