Violência Racial

Por: Abraão Macedo

 

 

“Eu não quero morrer não… é ele… é ele… chama a rondesp… quem é você…? Sai de baixo… não foi eu não…”

Os grotescos e irritantes gritos, descritos acima são só um chamariz, para a seção de horrores que irá se iniciar nos próximos momentos, quando ás sete da manhã e ao meio dia, invadem nossas casas e através da mídia televisiva exibem todo tipo de atrocidades e humilhações públicas, recheados com chacotas das mais diversas matizes aos supostos “culpados”, e corpos tombados em confrontos com a polícia.

È de assombrar o que está nos dias de hoje acontecendo em Salvador Bahia Brasil, a capital mais negra do mundo fora da África, que parece – nos, não reconhecer seus filhos e portanto fazer questão de abortá-los e humilhados a cada dia.

Nunca antes na história deste estado, parafraseando um já conhecido estilo de falar, exterminou-se de forma explícita e declaradamente genocida tantos negros em um espaço de tempo tão pequeno. O que vemos são verdadeiros assassinos de farda que fazem questão, capitaneados pelo Sr. Secretário de Segurança Pública, de matar a qualquer custo, haja vista os dados das últimas 24 horas de confrontos entre supostos “bandidos”, e a PM.

O que nos causa estranheza é o fato de os baluartes do movimento negro dessa cidade, estarem calados e sem uma nota, sequer dissonante sobre este massacre as populações periféricas e coincidentemente, negras. Onde estão nossas armas ? Onde estão nossas palavras? Onde estão nossas ações? Até quando nossos irmãos tombaram sem defesa, pelas mãos daquela que, deveria ser a instituição legalmente constituída para nos fornecer uma segurança de qualidade, até quando encontraremos adesivos como os que foram achados esta semana em carros da PM, com os dizeres “pai faz, mãe cria, PM mata!”. A Sociedade civil Organizada deve se movimentar no sentido de um basta a tal matança. È lamentável a situação das periferias e o que mais nos choca é que entidades e parlamentares, que sempre militaram a favor do respeito e cumprimento a Convenção de Genebra, não se pronunciem nem mesmo para questionar o aumento dos chamados autos de resistência, essa infame licença para matar, hoje tão comumente utilizada pela polícia baiana.

Percebemos há muito, que não há plano de governo, não há política de segurança pública,muito menos o chamado preparo dos policiais para as ações hoje comprovadamente desastrosas e desequilibradas. O que há são corpos, todos os dias espalhados pela cidade, resultantes dos chamados associados do tráfico de drogas. Pois não existe mais outras formas de crime e essa talvez seja a melhor das explicações para os constantes assassinatos, tão disseminados nesta cidade.

Some-se a esse quadro de horror,a programação televisiva de péssima qualidade imposta por programas das nossas emissoras locais, é o apocalipse da TV baiana que insiste em utilizar fórmulas chulas, e de baixíssimo nível para conseguirem audiência. Nossos olhos e ouvidos estão cansados de ver e ouvir o sofrimento de nossos irmãos,sem termos nada a dizer, nem a fazer. O silêncio dos grupos ativistas dos direitos humanos, bem como a total falta de mobilização por parte do movimento negro, só nos causa uma sensação, de espanto ainda maior.

Todos sabemos que os índices de criminalidade tem crescido assustadoramente, e que por diversos fatores, inclusive uma educação de péssima qualidade, a criminalidade tem assolado o estado da Bahia, mas matar nunca foi nem nunca será a solução, é preciso repensar a política de segurança pública do estado da Bahia, e acabar com essa exploração da violência feita por programas sensacionalistas, que só estimulam a juventude negra e periférica a práticas ainda mais elaboradas e cruéis.

“Paz entre nós… foda-se os Playboys”

Mano Bronw (Racionais Mc’s)

Fonte: Lista Racial

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