Xenofobia ou racismo, NÃO!

Nelson Gervoni *
Adital –

Fiquei estupefato! Admiradíssimo! Pasmado! Muito mais que isso, fiquei escandalizado (e eu que achava que nada mais nessa vida pudesse me escandalizar!!!) com um vídeo postado no Youtube (veja na página inicial do blog), que mostra mensagens postadas no Twitter, por jovens que escancaram seu ódio xenofóbico (veja abaixo o que é xenofobia) contra nordestinos.

 

E eu que pensava que frases do tipo “que baianada é essa!”, “não faça papel de preto”, “vamos dormir que amanhã é dia de branco”, ou mesmo aquelas que chamavam de “baiano” ou “nortista” qualquer pessoa nascida nas regiões Norte ou Nordeste, que tanto ouvia em minha infância, fossem coisas do passado. Estava enganado e a situação atual é infinitamente pior que aquela que pensava fazer parte do passado.

 

Embora eivadas de preconceitos embutidos e muitas vezes inconscientes, aquelas frases faziam mal, pois revelavam o que, lá no fundo, as pessoas que as pronunciavam sentiam. Entretanto, talvez houvesse uma atenuante, justamente por estar este sentimento ocultado pelo inconsciente. Mas o que vi no vídeo do Youtube é diferente e muito pior! É racismo e xenofobia consciente e propositadamente explicitada, do tipo “odeio nordestino”, “odeio os negros”, “odeio judeus” etc. etc.

 

É pior ainda, porque aquilo que eu ouvia na infância era dito por pessoas com pouco esclarecimento e nenhuma (ou quase nenhuma) formação escolar. Eram pessoas que, no máximo, tinham feito o “quarto ano de grupo” ou que sequer sabiam ler ou escrever. Já as mensagens do Twitter mostradas no vídeo são escritas por jovens de classe média e alta, inteligentes, bonitos, brancos, articulados e conectados com as modernas tecnologias da internet, etc. E mais: são universitários! São os que em poucos anos ou meses estarão nos principais postos do mercado de trabalho e da sociedade.

 

Aliás, seria bom se os dirigentes de RH atentassem para essas pessoas que, não demora, baterão à porta das empresas buscando colocação profissional. Não é prudente contratá-las sem antes se certificarem de que foram curadas dessa patologia social e de se assegurarem que evoluíram moralmente, pois está comprovado que desenvolvimento cognitivo não significa desenvolvimento moral.

 

Mas há um viés político nesta questão, pois boa parte das manifestações xenofóbicas está associada ao movimento “euquero45”, pró Serra e anti Dilma, no Twitter. A reação está associada ao Bolsa Família (PBF), como se somente nortistas e nordestinos fossem alcançados pelo programa social do Governo Federal. As regiões Sul e Sudeste também são alcançadas pelo PBF. Além disso, o programa não foi o único responsável pela eleição de Dilma e Serra tinha como uma de suas propostas criar 13º salário para o programa Bolsa Família e aumentar em dois milhões o número de atendidos no Nordeste.

 

Penso que o Serra deveria ver esse vídeo e iniciar uma campanha anti-xenofóbica no seu Twitter -de elevada quantidade de seguidores- pois quero crer que ele não compactua com isso.

 

Quem também deveria ver esse vídeo é o Ministério Público. Ver e entrar no circuito para responsabilizar tanto os xenofóbicos, quanto o Twitter, pois xenofobia, assim como o racismo, é prática criminosa.

 

Ao ver esse vídeo tive um sentimento paradoxal de profunda tristeza e certa alegria.

 

Me senti mal e quase tive uma náusea somática. Me bateu uma indignação e uma certa incredulidade, por quase não acreditar que ainda existem pessoas assim num país tão plural e diversificado como o nosso! Fiquei triste, pois pensava que era tolerante, mas vi que não consigo tolerar esse tipo de intolerância. Senti medo do ser humano! Me lembrei de Manuel Bandeira: “O bicho, meu Deus, era um homem”.

 

Mas consegui sentir uma alegria. Fiquei feliz por ter conseguido me sentir mal com isso e saber que outros milhares de pessoas também repudiam o comportamento desses moços e moças. Experimentei um sentimento tão paradoxal a ponto de ter vergonha de ser branco, neto de europeu, de ser de classe média, de pertencer a uma elite cultural, de ser inteligente, de ser professor… Sentimento paradoxal, pois ao mesmo tempo tive um sentimento virtuoso. Senti orgulho de ter sido criado na periferia de Diadema entre dignos e honrados negros e nordestinos e sob a influência do samba e do baião. Senti orgulho dos meus pais, que me deram uma criação evangélica (naquela época os evangélicos também eram xenofobizados e rotulados de “crentes”). Tive orgulho da minha infância pobre. Tive orgulho de ser casado com uma adorável e meiga nordestina, com quem tenho um casal de filhos que trazem traços fisionômicos mistos. E veja que interessante: tive orgulho de ter sido casado com uma cabocla (ou mameluca) e por ter tido com ela duas filhas e duas netas. Tive orgulho da minha irmã, que há dez anos escolheu adotar, entre crianças brancas, duas gêmeas negras e lindas que se tornaram suas filhas e minhas sobrinhas.

 

Xenofobia

A xenofobia é comumente associada à aversão a outras raças e culturas. É também associada à fobia em relação a pessoas ou grupos diferentes, com os quais o indivíduo que apresenta a fobia habitualmente não entra em contato ou evita fazê-lo.

Atitudes xenofóbicas incluem desde o impedimento à imigração de estrangeiros ou de pessoas pertencentes a diferentes culturas e etnias, consideradas como ameaça, até a defesa do extermínio desses grupos. Por esta razão a xenofobia tende a ser normalmente ligada a preconceitos étnicos ou à nacionalidade. Estereótipos pejorativos de grupos minoritários (por exemplo: “asiáticos são sujos”, “muçulmanos são violentos”, “negros são menos inteligentes”, “europeus do norte são superiores aos europeus do sul”, “povos anglo-saxões são superiores aos povos latinos”, etc.) e conflitos de crenças podem levar um indivíduo ao ódio. (Wikipédia).

Fonte: ADITAL

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