Veterano de duas Copas do Mundo e consagrado como um dos destaques do Campeonato Alemão na última década, o meio-campista Zé Roberto, 35, atualmente no Hamburgo, disse que considera exagerados os altos salários recebidos pelos jogadores no Brasil.
Em entrevista ao caderno especial “Futebol”, publicado neste domingo pela Folha, Zé Roberto falou sobre vários aspectos que rondam a vida de um atleta.
Confira abaixo as opiniões do meia sobre vários temas.
Dinheiro
“Já joguei com jogadores que não souberam fazer desse dinheiro uma benção. A maioria dos atletas não é bem gerenciada. Muitos jogadores vivem do presente e não pensam no futuro. Tem muita gente que chega perto dos jovens jogadores para se aproveitar deles.”
“Falando em Brasil, acho que [os salários do futebol] acabam sendo um pouco exagerados, pela forma como vive a população.”
Fama
“Se você é um jogador equilibrado e tem pessoas em sua volta que te auxiliam, é fácil lidar com a fama. Sei que um dia isso tudo vai acabar, então, consigo lidar bem com ela. Mas, tem jogadores que não conseguem viver sem ela, que acham que a fama é tudo.”
Vida nômade
“Essas viagens e mudanças me deram uma bagagem cultural. Isso fez com que eu vivesse experiências novas. Meus filhos falam três línguas: português, inglês e alemão.”
“Mas isso traz algumas coisas ruins também, é muito sacrificante. Tudo tem um preço. Fico longe da família. Muitas vezes, não posso participar de uma reunião de escola dos meus filhos porque estou treinando. Planto hoje para colher no futuro.”
Peso da idade
“O lado negativo aparece muito mais no Brasil. Aí, quando você chega a 31, 32 anos, começa a sofrer com preconceito dos torcedores e da imprensa. Isso não acontece aqui na Europa.”
Aposentadoria
“Já comecei a conversar com minha mulher sobre isso. Estou fazendo a projeção do fim da minha carreira. Não é que não estou aguentando mais, é mais pelas necessidades, pelo que estou querendo priorizar. Acredito que em mais dois ou três anos encerro minha carreira e coloco em prática um projeto que tenho para crianças das periferias.”
Concentração
“É importante, mas não pode ser muito rigorosa. O jogador não pode ficar longe da sua família, perder a liberdade. Ele precisa estar bem fisicamente e também psicologicamente.”
Indisciplina
“É algo muito negativo para nós. Esses jogadores fecham a porta para os outros brasileiros na Europa. Tenho uma preocupação muito grande com isso. Estou aqui na Alemanha como um exemplo, para mostrar que nem todo jogador brasileiro é pagodeiro.”
Relacionamento entre jogadores
“Na Europa, você não consegue encontrar ambientes tão bons quanto no Brasil. Na seleção brasileira, depois do jantar, fica todo mundo conversando na mesa, brincando. Nos clubes, são muitos estrangeiros, cada um fala uma língua. E, quando você é estrangeiro, o jogador do país acha que você está lá para roubar o lugar dele.”
“A amizade no futebol é como na escola. Você conhece muitas pessoas, convive com elas no dia-a-dia, mas só cria amizade real com um ou dois. São poucas as amizades que fiz que acho que vão durar pelo resto da vida.”
Álcool e drogas
“Você tem um controle muito rigoroso de doping, o que deixa difícil para o jogador usar drogas. Já sobre alcoolismo, é algo que acontece mais na vida pessoal. Tenho amizade com jogadores que têm famílias, filhos. Então, nunca vi nenhuma situação de jogadores alcoólatras.”
Relacionamento com técnicos
“O relacionamento tem que ser profissional e com respeito dos dois lados. O treinador tem que optar pelos 11 titulares, pelos reservas e vai ter que deixar jogadores de fora. Essa é uma decisão difícil.”
Fonte: UOL