Zygmunt Bauman: somos aquilo que podemos comprar

Zygmunt Bauman é um sociólogo e filósofo polonês que se debruça sobre os problemas do capitalismo, ou melhor, sobre a face mais perversa e doentia do capitalismo insano e selvagem: a ideia de que somos aquilo que podemos comprar. Ele observa que a sociedade atual, bombardeada pela propaganda incessante, vive em estado de estresse e ansiedade, pressionada a consumir cada vez mais. A sociedade atual sequer consegue pensar em soluções para seus problemas, afinal, não há tempo para isso. Temos muitas contas para pagar e perdemos completamente o poder de decidir nossas vidas.

Por Alfredo Carneiro, Do Pensar Contemporâneo

Zygmunt Bauman- homem idoso branco, calvo, vestindo terno cinca escuro- fumando um charuto.
Zygmunt Bauman, filósofo e sociólogo polonês, em Burgos em 2015. (Foto: SAMUEL SANCHEZ/EL PAÍS)

Aliados a essa mentalidade, os bancos se dedicam aos clientes que não conseguem pagar suas contas, preferindo que o indivíduo faça um empréstimo para pagar outro empréstimo, pois, afinal, lucram (e muito) com os juros. O indivíduo disciplinado que paga suas contas precisa ser capturado pela lógica do endividamento, pois é uma ameaça ao lucro das instituições financeiras. Aqueles que não podem pagar não têm acesso aos shoppings centers, os santuários espirituais das sociedades de consumo. Nossa época reflete, segundo Bauman, um momento onde o poder político desvinculou-se do poder econômico. Assim, a política tornou-se ilusão, pois as decisões políticas devem ser do interesse do poder econômico.

 

Se no passado o capitalismo era norteado pela cultura da poupança, onde as pessoas faziam sacrifícios para obter aquilo que necessitavam, hoje vivemos a ilusão do “aproveite agora e pague depois”. E pague, de preferência, por coisas que não precisa. A criação de necessidades é uma especialidade desse esquema cruel e excludente.

 

Contudo, até mesmo o supremo poder econômico, que tudo domina, irá consumir a si mesmo. Estamos, segundo Bauman, em uma época sem líderes ou política, orientados tão somente pelo consumismo, sem direção ou objetivos. Somente após o previsível colapso de nossas sociedades de consumo é que buscaremos soluções mais sensatas.

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