“Sou diferente, sou singular. Não existe ninguém como eu.”
Mulheres de várias origens e profissões compartilharam os relatos comoventes e instigantes de suas jornadas de autoaceitação.
Harnaam Kaur tem barba, pelo fato de sofrer de síndrome do ovário policístico (POS). Fatemah Dhanji é sujeita a racismo chocante por usar hijab. Joanné Dion foi vítima de bullying por ter albinismo. Elas são algumas das mulheres que vieram a público contar como aprenderam a se amar.
Essas dez mulheres incríveis são destaques de uma campanha intitulada “Em Nossa Pele”, encomendada pela Stoosh, uma plataforma que incentiva todas as mulheres negras, de origem asiática e de minorias étnicas no Reino Unido a serem autoconfiantes, ter o direito de expressar-se livremente e não sentir que precisam pedir desculpas por ser quem são.
Fatemah disse ao HuffPost Reino Unido: “Todas as mulheres que participaram da série fotográfica nos mostram que aprender a abraçar as dificuldades que enfrentamos com nosso corpo e a nos expressar livremente pode ser a força que move nossas conquistas, felicidade e sucesso em todos os aspectos da vida.”
Foto: Stoosh
Foto: Stoosh
“Sendo eu a única aluna mestiça na minha classe, eu era sempre ‘a garota diferente’, aquela que tinha pele negra, coxas grossas e usava dreads.
Mesmo hoje há quem me julgue por minha aparência. Outro dia postei um vídeo e recebi uma mensagem de um cara dizendo ‘você devia tentar perder um pouco de peso’. Houve comentários do tipo ‘essa gorda não sabe dançar’, coisas desse tipo. As pessoas foram super mal-educadas.
Mas eu me olho e não me acho gorda. Não é uma coisa profunda. Sou metade jamaicana e fui criada do jeito rastafari. Somos gente de bem com o corpo. Qualquer um de nós, com qualquer tipo de corpo, sai por aí de shortinho e regata, e ninguém te olha torto. As pessoas não dão a mínima para isso. O importante é ser feliz. É liberdade. Esse é meu modo de vida.
– @_naomimt
Foto: Stoosh
“Quando eu era mais jovem, detestava ter braços tão peludos. Odiava mesmo. A nós que somos indianas, nos dizem que ter muitos pelos dá uma aparência suja e pouco feminina. Tem que depilar tudo: do queixo, buço, braços, pernas. Dizem para a gente coisas tipo ‘nenhum homem vai lhe querer se você for peluda’, ou ‘você nunca vai se casar’. É uma coisa maluca.
Minha mãe sempre ia ao salão depilar os braços e ela meio que me deixou com sentimento de culpa por não fazer o mesmo. Então comecei a fazer depilação. Mas quando fui para a faculdade, parei com tudo. Era muito trabalho, muita manutenção, e, vivendo com orçamento de estudante, eu não tinha dinheiro para isso. Além do mais, não é normal ficar fazendo depilação a vida inteira. Os pelos crescem por alguma razão, certo? E eu não gostava da sensação das roupas em cima de minha pele depilada.
Desde então, deixei de enxergar meus pelos como problema. Na verdade, eu hoje adoro meus pelos. Eles me conservam quentinha no inverno. São macios, fofinhos. Gosto da sensação dos meus braços peludos. E, não ria, é verdade – gosto de alisar meus pelos. Quando estou estressada, isso me relaxa. É tipo meu pequeno hábito pessoal para me tranquilizar no meio de minha rotina corrida. E ninguém mais faz a mesma coisa que eu.”
- Rochelle
Foto: Stoosh
“Quando comecei na escola secundária, tinha acabado de me mudar para uma cidade nova com minha família. Eu não tinha amigos ali, eu tinha um sotaque diferente e era uma das poucas garotas negras da escola. Foi uma fase difícil. E para piorar, o fato de eu ter vitiligo meio que me fazia chamar a atenção.
O vitiligo é um problema não contagioso que cria manchas claras na minha pele. Não é um problema sério, na verdade. Mas nas aulas de educação física, ninguém queria me dar a mão. O pessoal me chamava de ‘panda’ ou ‘vaquinha’. Era um sofrimento.
Por sorte eu fiz algumas sessões de terapia com uma pessoa incrível, e isso, mais o apoio da meus amigos e família maravilhosos, me ajudou a superar tudo isso. Comecei a mudar meu modo de pensar e a ficar um pouco menos criança. Então, dois anos atrás num encontro em Stratford, conheci @winnieharlow, e aquilo meio que mudou minha vida. Pensei: “Se ela pode superar, eu também posso”. O vitiligo não afeta minha saúde nem nada, então não vou deixar que me prejudique. Levei anos para entender isso, 15 anos, para ser exata, mas a partir do momento que entendi isso, me dei conta do meu poder.
– @msroch88
“A puberdade foi uma fase difícil para mim. Eu estava passando por muita coisa e, de modo geral, me sentia muito mal comigo mesma. Para não precisar encarar meus outros problemas, comecei a voltar toda minha atenção ao meu peso. Comecei a pensar: ‘Se eu conseguir resolver meu peso, todo o resto da minha vida vai se resolver.’ Comecei a pesquisar lipoaspiração, laxantes, remédios para emagrecer e todas essas coisas bestas. Qualquer coisa para eu não me sentir uma baleia.
Mas, depois de um tempo, chegou um ponto em que fiquei farta de todas essas negativas e de eu mesma me criticar tanto sem razão. Comecei a reaprender a gostar do meu corpo – incluindo minha barriga, coxas grossas e rosto rechonchudo. Hoje eu me curto exatamente do jeito que sou. Olho minha barriga e penso: ‘Está ótima, é normal’. Afinal, onde mais meus órgãos poderiam ficar, senão na minha barriga? Estou de bem com meu corpo. Se eu comer pizza demais e ganhar peso, vou poder dar um jeito. É só abrir o zíper do meu jeans. Não é uma coisa tão séria, não mesmo.
– @saimasmileslike
Foto: Stoosh
“Desde pequena, sempre vi minha mãe deixar os pelos do corpo crescerem livremente. Sempre. Ela tem ‘matagais’ debaixo dos braços e até um matagal grande lá embaixo. Quando ela levava a gente para a piscina, no verão, dava para ver uns pelinhos saindo do biquíni dela. Eu achava lindo. Quando era garota, isso me deixava com a maior vontade de chegar à puberdade logo. Eu não via a hora de ter pelos em todo lugar e ficar parecendo uma mulher de verdade.
Foi só quando comecei a sair com garotos que percebi que nem todo o mundo curte pelos. Digamos simplesmente que encarei algumas reações malucas de alguns garotos. Pensei em raspar meus pelos, mas disse a mim mesma: ‘Ei garota, deixe esse barbeador de lado. Por que eles têm que decidir o que você vai ou não vai fazer com seu corpo? Que se dane. O corpo é meu, quem decide o que fazer com ele sou eu.’ É normal que mulheres também tenham pelos, sabe? Às vezes tem gente que me olha torto na rua, que faz comentários, coisas desse tipo. Mas não ligo. E acho importante o que estou fazendo. Quando ostento meus pelos abertamente e fico linda assim, mostro às outras garotas que elas também podem fazer o mesmo.
Foto Stoosh
“Quando cheguei à puberdade, meus quadris cresceram de repente. Foi uma coisa muito tosca. Não recebi nenhum aviso prévio, ninguém me avisou que ia acontecer. E com os quadris grandes vieram estrias enormes. Em todo lugar. Como eu odiava aquelas estrias!
Você olha para as mulheres nas revistas e elas são perfeitas, impecáveis – sem estrias, sem pelos, pele lisinha, nenhum problema. Com as minhas estrias, eu parecia um pacote com defeito. Como se meu corpo fosse diferente, imperfeito e feio.
“Mas com o passar do tempo, percebi que eu não era a única garota no mundo com estrias. Minha melhor amiga, que é belíssima, tinha estrias. Minha mãe lindíssima tem estrias. Outra garota alta como eu, @chrissyteigen, tinha estrias (e até postou fotos delas no Instagram). Então comecei a aceitar minhas estrias completamente e até a gostar delas. Porque já entendi que marcas no corpo – sejam elas cicatrizes, estrias ou qualquer outra coisa – não deixam a gente imperfeita. Elas mostram que você é uma mulher forte. Uma mulher que cresceu e viveu a vida. Uma mulher corajosa e destemida. Uma mulher que já enfrentou o mundo.
Não apenas eu me sentia horrorosa – sentia medo também. Pensei em deixar de usar o hijab. Isso teria sido fácil, mas parecia errado. Para mim, usar o hijab é empoderador. É uma coisa realmente libertadora. Sinto orgulho quando o uso. Faz parte de mim, parte de minha identidade, minha cultura e meu legado. Não é apenas um sinal de minha religião, mas também símbolo de minha força e disposição de encarar qualquer coisa que a vida coloque diante de mim. O hijab me fortaleceu. Me deu o pique para varrer aquela negatividade para longe e seguir em frente para me formar em teatro e começar a atuar. Ele me ajudou a conquistar minha paixão. Me deu impulso para fazer todas as coisas que hoje me fazem sentir orgulho em ser mulher. E tem mais: com o hijab meu cabelo nunca está feio.”
– @tvo_hijabi / @fatemahhhxo
Foto: Stoosh
“Não foi fácil ser a única criança africana na escola primária. Eu sempre era vista como a outsider, a diferente. Um dia um de meus colegas de classe perguntou à professora porque minha pele era castanha, enquanto o resto da classe tinha pele cor de pêssego. Aquele comentário me deixou tão mal que comecei a usar uma loção clareadora.
Mas não demorei a ter sentimentos ambíguos sobre essa decisão. Usar aquela loção branqueadora era como tentar virar outra pessoa, e isso não me parecia certo. Pensei: ‘Esta não sou eu. Sou de origem completamente africana, tenho mais é que assumir.’ Aquilo foi uma virada na minha vida.
– @iamthedesiree
Foto Stoosh
“Nasci com albinismo, uma condição que reduz a quantidade de pigmento na minha pele. Isso me deixa incrivelmente pálida, apesar de eu ser nigeriana. Afeta minha saúde um pouco, deixando minha pele mais sensível ao sol e meus olhos mais sensíveis à luz. Mas o maior problema é o bullying.
“Sofri bullying em todo lugar, desde a pré-escola até a faculdade. Mas o mais louco é que eu sofria bullying também de pessoas negras, meu próprio povo. Isso porque, na cultura negra, quanto mais branco você é, melhor, exceto quando você é branca demais. E eu tenho pele clara demais para ser considerada negra. isso mostra como não faz sentido valorizar a cor da pele.
– @joannedion_
*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost UK e traduzido do inglês.