Esclarecer para tolerar

A intolerância, assim como o racismo, é um fenômeno social construído com o objetivo de cercear os direitos do outro

Por Ivanir dos Santos Do O Dia

Ivanir dos Santos

Comemoramos ontem o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Instituída em 27 de dezembro de 2017, sobre a Lei 11.635, a data rememora o falecimento da yalorixá Mãe Gilda, do terreiro Axé Abassá de Ogum, na Bahia. A sacerdotisa faleceu no dia 21 de janeiro de 2000, após ser acusada de charlatanismo e ver a sua casa ser atacada por motivos de ódio e intolerância religiosa. Diante dos trágicos fatos, buscamos, a cada ano, rememorar Mãe Gilda com demonstrações de respeito, tolerâncias, hombridade e alteridade.

Mas, pensando nos múltiplos casos de intolerância religiosa que vêm crescendo assustadoramente na sociedade brasileira e, principalmente no Estado do Rio de Janeiro, os organizadores do livro ‘Intolerância Religiosa no Brasil: Relatório e Balanços’, em parceria conjunta com a Seppir, optaram em rememorar tal data usando a maior arma contra esses monstros invisíveis, a educação e informação. E para tal, decidimos promover a publicação da segunda edição do referido livro, cujo objetivo é evidenciar para a sociedade brasileira, por meio dos dados sistematizados e relatos de casos, o quão danosa é a proliferação da intolerância em nossa sociedade e, também, fomentar a utilização da obra como instrumento pedagógico voltado para a educação inclusiva e em prol das humanidades, diversidade e pluralidades visando à promoção de um diálogo inter-religioso que possa ultrapassar as fronteiras das intolerâncias.

Durante o ano de 2017, em âmbito nacional, promovemos série de evento e ações para a divulgação do livro, como o evento de lançamento oficial na ABI; durante apresentação do documentário ‘Respect’; a roda de conversa ‘Intolerância religiosa como um determinante do apagão e do arrastão ideológico perpetrado pelas ações do racismo colonial no Centro Dom Vital’. Já em âmbitos internacionais, o livro foi apresentado e recomendado nos eventos Conferência Mundial da Humanidade, que aconteceu em Liége, na Bélgica; no 24º Annual International Law and Religion Symposium Religion and Religious Freedom in a Changing World , realizado pelo International Center for Law and Religio, na Brigham Young University, em Provo, Utah, Estados Unidos; e no evento Under the Gun: State Violence and Black Populations,, que aconteceu na Universidade da Pensilvânia.

A intolerância religiosa continua fazendo vítimas. Nos últimos anos, a CCIR vem chamando à razão da sociedade para o perigo de uma ditadura religiosa em um país como o Brasil, que é diversificado, repleto de crenças e laico. A intolerância, assim como o racismo, é um fenômeno social construído com o objetivo de cercear os direitos do outro. Compreendemos que a base para uma convivência sadia em nossa sociedade é a alteridade e o diálogo.

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