Em apenas um dia, policiais militares atenderam 13 ocorrências de violência doméstica no Distrito Federal. Mulheres são quase a totalidade dos alvos, enquanto os homens são os acusados
Por Júlia Campos, do Correio Braziliense
São cada vez mais corriqueiros os casos de violência contra a mulher no Distrito Federal. Só na segunda-feira, policiais militares atenderam 13 ocorrências. Em quase todas, o agressor era companheiro ou ex-parceiro da vítima. Nos três primeiros meses de 2017 foram registradas 3.420 ocorrências de violência doméstica. A hostilidade física está presente em 53,6% das ocorrências. Das vítimas, 3.675 (90%) eram mulheres. Dos autores identificados, 3.360 (90,6%) eram do sexo masculino. Especialistas afirmam que o fenômeno sempre existiu e que tem aumentado o número de queixas formalizadas, graças às campanhas educativas dos governos e aos meios criados para as denúncias.
Doutora em direito pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em direito da mulher, Soraia da Rosa Mendes é uma das defensoras de tal tese. Para ela, a única explicação para essas situações corriqueiras é a cultura machista e a submissão da mulher. “Ele sabe que está em uma situação de superioridade e é muito difícil para mulheres entenderem que estão nessa circunstância de violência. A violência não escolhe quem é instruído e quem é ignorante”, afirma. Soraia alerta que essa é uma questão de direitos humanos.
PhD em comunicação e integrante do Núcleo de estudos de violência da Universidade de Brasília (UnB), Tânia Montoro culpa parcela da mídia pela violência doméstica. Apesar do aumento das campanhas governamentais, ela reclama da falta de instrução por parte de certos setores. “No Brasil, as pessoas vão pouco ao cinema e leem pouco jornal. A televisão é protagonista da casa das pessoas. E ela mostra um desserviço social. As pessoas conversam pouco e acham que as coisas se resolvem na base da violência. Mostrar a violência dá mais audiência do que as boas atitudes”, analisa. Para ela, a sociedade tem se tornado mais violenta, um reflexo da desesperança e desigualdade.
Prevenção
É comum que em um mesmo ambiente familiar ocorram várias denúncias causadas pelo mesmo problema. É nesse contexto que atua o núcleo de Prevenção Orientada à Violência Doméstica. O programa é subordinado ao Centro de Polícia Comunitária e Direitos Humanos da Polícia Militar do DF e atende pessoas que sofreram violência física, moral, sexual, psicológica e patrimonial dentro de casa. Logo após a análise da denúncia, o patrulhamento na área é reforçado e os policiais fazem visitas periódicas às famílias para acompanhar o caso e resolver conflitos entre vítimas e agressores, independentemente do processo judicial. O Provid recebe as demandas a partir do atendimento emergencial das ocorrências ou por meio do encaminhamento dos órgãos da rede de apoio, como Ministério Público, Tribunal de Justiça, Conselho Tutelar e delegacias especializadas.
Memória
2016
Em março, Jane Carla Fernandes Cunha, 20 anos, moradora de Samambaia Sul, foi assassinada por Jhonata Pereira Alves, com quem teve um relacionamento de seis anos. A estudante de gestão pública já havia denunciado o ex-companheiro, enquadrado na Lei Maria da Penha.
A manicure Eliane Vieira de Paula, 42 anos, foi morta a facadas pelo marido, Beny Vieira de Paula, em setembro. O crime ocorreu na residência do casal, em Ceilândia, e foi presenciado por um primo da vítima.
Tatiane Leal Ribeiro, 38, foi assassinada a facadas pelo ex-companheiro Ronaldo Andrade Almeida, em Samambaia, em novembro. A filha mais velha de Tatiane presenciou o crime. Em 2013, a vítima registrou uma denúncia contra Ronaldo.