Em toda terceira segunda-feira de janeiro, os americanos comemoram a vida e as realizações do reverendo Martin Luther King Jr. (1929-1968), ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1964 e a pessoa mais associada aos triunfos do movimento pelos direitos civis dos afro-americanos durante os anos 1950 e 1960. Como organizador político, orador extremamente habilidoso e defensor de protestos não violentos, Luther King foi fundamental para persuadir seus concidadãos a acabar com a segregação legal que prevalecia em todo o Sul e em partes de outras regiões e para deflagrar o apoio às leis de direitos civis que estabeleceram a estrutura legal para a igualdade racial nos Estados Unidos.
A ocasião é um feriado nacional. Em 2011, cai em 17 de janeiro. Em 2009, o aniversário de Luther King foi comemorado em 19 de janeiro, um dia antes da posse de Barack Obama, o primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos.
Luther King estava entre os defensores da justiça cuja influência transcendeu as fronteiras nacionais. Estudante da filosofia e dos princípios de não violência enunciados por Mohandas Karamchand Gandhi (1869–1948), King viajou para a Índia em 1959, onde estudou mais a fundo o legado do homem chamado mais tarde por sua viúva, Coretta Scott King, de seu “mentor político”. Nelson Mandela, ao aceitar o Prêmio Nobel da Paz de 1993, da mesma forma mencionou Luther King como seu predecessor no esforço de solucionar de forma justa as questões do racismo e da dignidade humana.
Filho de um proeminente pastor de Atlanta, Martin Luther King Sr., King, aos 26 anos terminou seu doutorado em teologia na Universidade de Boston. Em 1954, ao terminar a sua tese, aceitou o cargo de pastor na Igreja Batista da Avenida Dexter em Montgomery, Alabama. Foi em Montgomery no ano seguinte que Rosa Parks, uma costureira afro-americana, foi presa por se recusar a ceder seu lugar em um ônibus municipal segregado a um passageiro branco. O incidente deflagrou o Boicote aos Ônibus de Montgomery, em que afro-americanos da cidade se recusaram a utilizar seu sistema de ônibus segregado. Luther King liderou a organização que realizava o boicote e tornou-se a face pública do movimento, apelando para o espírito de fraternidade dos americanos brancos. Quando os tribunais federais, seguindo a fundamentação da decisão da Suprema Corte no caso Brown vs. Conselho de Educação, declararam inconstitucional a lei de segregação nos ônibus, Luther King destacou-se como figura de importância nacional.
Em 1957, Luther King estava entre os fundadores da Conferência Sulista de Liderança Cristã (SCLC), aliança de igrejas e ministros negros organizada para realizar ações diretas não violentas contra a segregação. Líderes da SCLC tinham esperança de mudar a opinião pública e complementar as impugnações legais à segregação realizadas pela Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP). Luther King foi uma força dinâmica dentro da SCLC, destacando-se como seu principal arrecadador de recursos e estrategista político habilidoso que conseguiu formar alianças com brancos simpatizantes do Norte. Em 1959, Luther King viajou para a Índia, onde se encontrou com seguidores de Gandhi e aperfeiçoou ainda mais seu pensamento sobre protesto social não violento.
Durante o início da década de 1960, Luther King e a SCLC iniciaram inúmeros protestos pacíficos contra instituições segregadas. Em maio de 1963, em Birmingham, no Alabama, o comissário de polícia Eugene “Bull” Connor soltou cães policiais e dirigiu mangueiras de incêndio de alta pressão contra manifestantes pacíficos, muitos deles crianças em idade escolar. As imagens horrorizaram a nação. King foi preso durante essas manifestações e de sua cela na prisão escreveu a Carta da Prisão de Birmingham, na qual afirmou que quem viola uma lei injusta para despertar a consciência de sua comunidade “está, na verdade, expressando o mais alto respeito pela lei”, desde que aja “de forma aberta, amorosa e disposto a aceitar a pena”. Naquele mês de agosto, líderes afro-americanos organizaram a Marcha para Washington por Empregos e Liberdade. Diante de cerca de 250 mil defensores dos direitos civis reunidos no Memorial de Lincoln em Washington, Luther King proferiu um dos mais potentes discursos da história americana. Gerações de crianças em idade escolar aprenderam de cor frases do discurso Eu Tenho um Sonho, no qual Luther King ansiava pelo dia em que as pessoas não seriam julgadas pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.
As imagens de Birmingham e de Washington ajudaram a consolidar o apoio à Lei de Direitos Civis de 1964, sancionada pelo presidente Lyndon B. Johnson em 2 de julho de 1964. Em 1965, a resposta violenta da polícia de Selma, no Alabama, a uma marcha pelo direito ao voto desencadeou uma reação semelhante em apoio a Luther King, ao movimento pelos direitos civis e à legislação garantindo o direito à participação política. Por consequência, a Lei do Direito ao Voto foi promulgada em 6 de agosto de 1965.
Com a aprovação dessas leis de direitos civis, Luther King continuou a empregar sua estratégia de protesto social não violento, embora alguns líderes mais jovens às vezes pedissem meios mais radicais. King também ampliou sua agenda para incluir esforços concentrando a atenção na pobreza dos afro-americanos. Ele estava em Memphis, no Tennessee, em apoio a lixeiros negros grevistas quando, em 4 de abril de 1968, a bala de um assassino o matou aos 39 anos.
Os americanos homenageiam o reverendo Martin Luther King Jr. com um feriado nacional comemorado na terceira segunda-feira de janeiro e em breve por um monumento nacional, a ser construído bem em frente do Memorial de Lincoln, onde Luther King inspirou os americanos com seus sonhos de justiça e igualdade racial. Inúmeros indivíduos e organizações, inclusive o Centro Martin Luther King, em Atlanta, levam avante a sua obra.