Afirmar que este ano foi ganho para a EDUCAÇÃO parece beirar à cegueira. Escolas fechadas, estudantes, professores, gestores todos os servidores em casa e sem aulas presenciais. Mas, educação é mais do que espaço físico. Muito mais. Quem somente percebe a educação a partir dos espaços físicos percebe pouco. Foi desaprendido em sua capacidade epistemológica a cada aprendizado. Entendeu pouco acerca do que é e para que serve a educação.
Aulas, quando se teve (e quem teve) ocorreu de forma remota e todos em processo de aprendizagem sobre o como fazer. Estudantes aprendendo a se concentrar, muitos aprendendo a dividir computadores, celulares, tabletes e outros meios digitais. Aprendendo a perguntar para a máquina e a máquina transmitir para o professor e o colega. Não vendo o cheiro do colega. (mesmo sem coronavírus). Não foi fácil. Mas, também nunca fora fácil para a maioria dos estudantes da rede pública de educação. piorou de fato. Mas, que tem a necessidade confundida com virtude, via de regra, não chora com pouca coisa. Quem chora é quem tem tempo. Nossa maioria de estudantes não tem este tempo.
Somente estas explicitações acima já se constitui numa novidade única e num ganho inédito. É preciso de redundância para explicar 2020. Se não a gente não consegue entender o tamanho que tivemos de ser nesta quadra. E fomos.
A busca pelo aprendizado é sempre um desafio. E quando o assunto a ser apreendido é o próprio estudante (sujeito aprendente) e o professor (sujeito ensinante) se torna ainda mais desafiante. Pois, esta pandemia desnudou e colocou todo mundo para aprender ao mesmo tempo que ensinava. Quem não aprendeu ensinando em 2020 não ensinou. Mesmo os que já tinham um certo trato com as tecnologias digitais. Homens e mulheres inseridos num furta-cor psicológico não têm como não estar submetido a estas cores todas. Foi engolindo choro e soltando risos que viemos. Todos nós. Mas, viemos gigantes. Tentar aprender é sempre um ganho. É preciso descortinar para ver o outro lado. Porque ver o copo sempre meio vazio não ajuda a lutar para tentar encher o copo que pode estar meio cheio. Para a Educação o copo esteve meio cheio em 2020.
Ninguém ligado a pauta da educação sai deste ano igual. Todos os que a resiliência acompanhou e está superando o ano sai com um tanto a mais de aprendizados…Muitos saem muito maiores!!! Quem lutou pela educação em 2020 chega maior em 2021. Somente basta ver o que estes e estas sabiam (inclusive de si e suas capacidades cognitivas) em 2020 e como chegam em 2021. Chegam inclusive sabendo que são frágeis e necessitam de apoio psicológico para a sapiência da condição de humanos. 2020 ajudou a humanizar muita gente. Não se trata de uma fala de autoajuda. O capitalismo jamais será humanizante. Sua função é desumanizar. Nós somos sua contradição anticíclica em sentidos.
2020 talvez tenha reservado o ano de maior formação, mesmo que por osmose, de professores, no Brasil e no mundo. Em meio a dores, perdas, ansiedade e depressão, vários professores adentraram de cabeça no conhecimento para o uso de tecnologias digitais de educação remota. Começaram de forma tímida achando que em dois meses oi três às aulas voltariam, mas, não foi assim. Não voltou em dois meses. Mas, depois dois meses muitos não pararam para reclamar porque a pandemia não passou. Tentamos nós reinventar e conseguirmos. Reuniões por aplicativos até perder de vista. Cursos, palestras, testagem de plataformas, encontros para dialogar sobre todo e qualquer assunto. Orientações para a manutenção de vínculos, concursos, materiais impressos onde a rede não chegava. Assim foi 2020. E temos de celebrar. Como nos orienta Mano Brown “Conta com o que ficou. E não com o que perdeu”. – Vocês acham que a gente preta ri (e alto) por quê)?
A Educação e área de guerreiros. Quem está na educação sem disposição para guerrear na trilha da construção de um mundo melhor, está precisando de se entender melhor no que está fazendo. Ela é a sua função desde que foi a pensada. E em 2020 foi mais uma prova e estamos superando. Educação alargada.
Em pouco tempo, muita gente aprendeu muita coisa. Lógico que as escolas da Rede Privada conseguiram manusear melhor as tecnologias digitais de aprendizado. E isso ocorreu mais rápido por diversos motivos. Já atuavam com esta perspectiva formativa em partes, atuam como menos estudantes, tem um público remediado financeiramente…Isso permitiu que em pouco tempo a atuação com a educação remota intermediada pelas tecnologias. Mas, a máquina de construir a democracia é a escola pública. Diria o Anísio Teixeira, patrono da Educação baiana. É por ela que a gente seguiu, chegou, fomos, estamos sendo e seremos fortes. Inquebrantáveis.
Ninguém possuía uma proposta pedagógica com maestria para este momento. Ninguém. Mas, reinventamos durante o trajeto. Não podemos confundir a existência da estrutura para tal com a feitura do ato. As escolas particulares possuíam mais estrutura. O que não significa ter a sapiência pedagógica a tampouco a escala necessária para tal. A escola pública não cuida de Ilha. Mas, do continente. A ilha também faz parte do continente.
No Brasil, via de regra, a maioria esmagadora dos professores de todas as Redes não possuem formação para atuação com educação intermediada por tecnologias remotas. Todos, em especial, os alunos da Rede Pública tiveram o aprendizado em perceber o quanto de desigual é a escola e esta é o retrato da sociedade. Mas, isso não quer dizer que estes estudantes ficaram parados. Estes e estas fizeram. E fizeram muito!!! Cada um faz de acordo com suas condições de fazer. Um jovem indígena, de campo e quilombola que sai da aldeia, da roça ou do quilombo para participar de uma reunião no distrito ou na cidade para acompanhar uma aula por um celular emprestado não é somente bonito. É a prova de que tem gente que luta mais do que outras para sobreviver e, portanto, precisa de que as políticas públicas lhes sejam desiguais na medida que suas desigualdades se apresentam. É a luta pela sobrevivência, vida e direito. Chamamos a isso de Quilombos também. E a busca pelo acesso a rede de internet também ocorreu nas comunidades empobrecidas das cidades. Acerta o gestor que afirma que internet deve fazer parte do cardápio de politicas públicas indispensáveis para o bem-viver como água e luz. Se 2020 ensinou também tirando o cascão da pereba devemos ter a coragem de fazer o curativo.
Aprendemos que a cobertura de banda larga é muito baixa e que em muitos lugares nem sequer sinal de celular pegava. Aprendemos que muitos professores tentando combater e mitigaram os efeitos de coronavírus nas vidas de muitos estudantes se deram até onde puderam. Diretores, merendeiras e porteiros deram, em muitos lugares shows de solidariedade. E, vimos também, por outro turno, pessoas de pouco compromisso que incentivava até estudantes a não fazerem os testes para o COVID-19. A ESCOLA é o retrato da sociedade. E aprendizado é para todo lado. É nossa sociedade é multifacetada. Se aprende por todas as possibilidades.
O estudante se tornou o melhor consultor. A partir da escuta dos estudantes é que a gente conseguia vê-los melhor. E a não escuta era um saber de que este precisava mais da Rede Pública Escolar. A não escuta era um sinal de que a adoção de ensino remoto contabilizado era usar do espaço de gestor público para aumento assimetria entre os que tinham (estudantes da cidade, centro, brancos e de boa renda), contra os que não tinham (moradores da roça e periferia, empobrecidos e pretos). Foi correta a não adoção de contabilizar. A política pública deve ter a função de equanimizar a sociedade e não de torná-la mais desigual.
As apresentações passaram a contar com a descrição das pessoas para garantir os cegos o direito sagrado de saber como é a pessoa que está falando. Isso sairá dos encontros remotos para os presenciais quando voltarmos. Não é que não existia. Mas, era pouco conhecido. A capilaridade em escala das lives permitiu a quebra das patentes dos “donos dos saberes”.
Nós, em vez de reuniões com 30 estudantes, fizemos com 250. Lives com mais de 1.000. Escuta de todas a “vicidades” de gente. E foi lindo ver os estudantes sem deficiências se emocionar ao ver traduções em libras. Quem não se emocionou assim, perdeu um tempo bom de aprendizagem em 2020. E perdeu para si próprio e não para a pandemia.
Foi bonito ver governos como o da Bahia manter bolsas e repasses para os estudantes sofrerem menos os impactos financeiros e econômicos. Mesmo não estando presentes fisicamente em sala de aula. Além desta garantia também ensinou como ser gestor e priorizar os mais necessitados. Isso fica de aprendizado para quando estes estudantes de 2020 forem os novos gestores. A escola publica precisa de ensinar estes estudantes a serem gestores no futuro. Incentivá-los. Ensiná-los sobre isso. Mais do que informação e conteúdo. Precisa de ser um espaço permitidor de reposicionamentos sociais.
A pandemia criou um novo professor e um novo estudante. Tirou o medo da educação a distância e colocou em voga o já vivido e observado diariamente. Pais e mães pararam para aprender com os filhos a manusear melhor as máquinas com medo de serem devorados qual a esfinge do Egito. E aprenderam os enigmas.
“É preciso de uma aldeia toda para educar uma criança”. Diz um Provérbio africano. Fomos orientação a construir estas aldeias a distância e esta teia protetiva através do uso da mediação tecnológica. E fizemos bem. Mas, precisamos que estas aldeias sejam sempre maiores e com estes educandos sendo sempre o indicador de resultado. O indicador a partir da felicidade e da emancipação. Não é qualquer indicador que vai indicar o alcance da liberdade.
Lamento informar a quem acha diferente. Lamento porque perdeu a oportunidade de aprender mais e de ser melhor. Melhor para si. Melhor para os seus e o mundo. Melhor educador. Lamento por quem perdeu a chance de aprender.
Que possamos aplicar estes conhecimentos e aprendizados em 2021 e possamos cuidar de gentes cada vez mais. Com mais afinco, mais amor, mais estudos e mais educação. Com mais gente. Fazer educação é cuidar de gente. E a gente só cuida quando amamos. Amemos mais a educação e os educando. Amemos cada vez mais e sempre a escola pública.
Sigamos!