300 mil na Marcha em Brasília: mulheres negras fazem história mais uma vez

27/11/25
Por Beatriz de Oliveira
Diretoras de Geledés sintetizam o que foi a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

O dia 25 de novembro de 2025 marcou a história brasileira: 300 mil mulheres negras ocuparam Brasília (DF) para reivindicar uma cidadania que, verdadeiramente, as contemple. A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver compôs o horizonte brasiliense  com a força coletiva e se traduziu em uma diversidade de belezas, cabelos, corpos, idades e localidades. 

Convictas de que um novo projeto de país deve ser protagonizado pelas mulheres negras, as marchantes saíram do Museu Nacional rumo à Praça dos Três Poderes, exibindo seus cartazes e entoando palavras de ordem que exigem uma sociedade que as respeite. Durante o trajeto, denunciaram o racismo, o machismo, a lgbtfobia e outras violências que formam esse país. 

“Nós marchamos porque temos uma demanda extraordinária para cobrar do Estado brasileiro, de políticas públicas que nos incluam verdadeiramente. Marchamos em prol de alcançar a plena cidadania que nos permita realizar a utopia do Bem Viver”, afirmou Sueli Carneiro, coordenadora de Memória e Reparação de Geledés. 

A ativista também pontuou que a Marcha chama a atenção da sociedade sobre os processos de exclusão que atingem mulheres negras, além das demandas que o Estado deve cumprir para que haja uma real emancipação da população negra. “Costumo dizer que agimos em legítima defesa da nossa dignidade humana, que tem sido aviltada desde sempre”. 

Fotos: Isabela Gaidis

O ato foi global. Reuniu pessoas de mais de 40 países e demonstrou a força de mobilização do movimento de mulheres negras. Uma década atrás, na primeira Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, cerca de 50 mil mulheres protestaram na capital federal. Este ano, o número mais do que triplicou.  

Para Suelaine Carneiro, coordenadora de Educação e Pesquisa, a realização da segunda Marcha Nacional atualiza a lista de reivindicações das mulheres negras e demonstra que, apesar de alguns avanços, ainda há muito o que conquistar. Para além disso, “o que mais se renova nesse processo é que novos rostos entram nessa marcha, outras mulheres negras reconheceram a dívida histórica e também passaram a reivindicar direitos e a protagonizar nossa busca por avanços”.  

Já Nilza Iraci, coordenadora de Formação, Cuidado e Emancipação, lembrou de todo o processo de mobilização que culminou no ato e se disse emocionada em ver mulheres chegando felizes para a marcha, depois de horas de viagem de ônibus. A diretora destacou que a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, cujo Geledés faz parte, levou 5 ônibus e 63 pessoas de avião para o evento. 

“Estou  feliz, emocionada e com muita esperança que essa Marcha traga resultados. Essa potência das mulheres na rua demonstra que ninguém veio pra brincar.  Está na hora de mudar o rumo dessa prosa, viemos dizer: nós existimos. É como costumo dizer: se isso é utopia, queremos utopia e não fazemos por menos!”, salientou.

Durante o ato, foi apresentado o Manifesto das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que sintetiza os motivos e demandas que fizeram milhares se deslocarem para a capital. “Nossa trajetória nos autoriza a reconhecer os avanços, em virtude das lutas que travamos ao longo da história. Sabemos, no entanto, que é preciso irmos além, é preciso gestar o impossível”, diz um trecho. 

O documento traz proposições como: a criação do Fundo Nacional de Reparação para compensação dos prejuízos causados pela escravização e colonização; distribuição das vagas nos Tribunais Superiores com proporcionalidade de raça e gênero; regimes previdenciários especiais, atentando para as particularidades dos trabalhos informais, e  reanálise e anistia de dívidas de financiamentos para moradia de pessoas negras. 

Além do ato em si, o início do dia foi marcado por uma sessão solene em homenagem à Marcha e ao papel decisivo das mulheres negras na democracia. Já no final da tarde, ocorreram shows das artistas Luana Hansen, Bia Ferreira, Prethaís, Nubia, Célia Sampaio, Ebony e Larissa Luz. Ademais, uma comitiva se reuniu com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, para pautar o tema da reparação. 

  • Leia o Manifesto das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

Compartilhar