Ter filhos tem me levado a enfrentar mais desafios do que eu jamais podia imaginar, tanto como ser humano com uma quantidade finita de paciência quanto como uma feminista. Eu luto para saber como criar uma filha em uma sociedade que está repleta de violência, apologia ao estupro, tentativas de impedir o acesso de mulheres aos serviços de saúde, salários desiguais, racismo, sexismo e um vasto leque de outros males sociais.
Eu quero que a minha filha tenha ciência dessas realidades e das lutas que enfrentará sem deixar que isso a desanime ou diminua o seu potencial. Então o que uma mãe feminista e amante de listas faz? Escreve uma lista de lições, obviamente.
1. Ter uma vagina não é uma deficiência. É um super poder.
2. Relacionado a isso, a menstruação não é uma maldição. Ela lhe qualifica de forma singular para criar e gerar uma vida, se essa for a sua escolha.
3. E por falar em escolha, só você pode/deve escolher se/quando você quer se tornar mãe. Claro, eu gostaria de ter netinhos um dia, mas se – e somente se – você estiver pronta para ser mãe deles.
4. As suas partes femininas, apesar de serem poderosas, não são a única característica que lhe definem. Você também tem um cérebro, um senso de humor e um milhão de outras qualidades que fazem de você uma pessoa incrível.
5. O sexo deve ser prazeroso, também. Não é só uma forma de fazer bebês.
6. Sexo seguro é o mais sexy. E por seguro, não quero dizer protegido apenas por camisinha. Seguro também significa consensual, confortável e emocionalmente seguro.
7. Nunca é LEGAL julgar alguém baseado na percepção da aparência externa ou identidade dela – isso inclui a cor da pele, orientação sexual, identidade de gênero, habilidades físicas, etc.
8. Saber é poder. Leia, converse de maneira atenciosa, questione a autoridade. Você irá tornar-se uma pessoa melhor por fazer isso.
9. Seja uma aliada, não uma Salvadora da Pátria. Saiba ouvir, apoiar e ter compaixão das pessoas; não tente “salvar” as pessoas.
10. Entenda que cada pessoa tem uma história e criação diferente e que cada história e criação tem valor.
11. O manequim da sua calça jeans é apenas um número numa etiqueta. Ele não define em nada o seu valor.
12. O tamanho do seu sutiã também não define.
13. Ame o seu corpo pelo que ele pode fazer, não pela aparência que ele tem.
14. Não importa se um cara te levar para jantar em um restaurante caríssimo – ou comprar jóias, roupas ou qualquer outra coisa para você. Você não lhe deve nada.
15. Dê risada e sorria sempre que puder, até – bem, principalmente – quando estiver enfrentando adversidades.
16. Conheça o seu valor financeiro e seja defensora de si mesma. Peça aquela promoção, aumento ou liderança em um projeto; mais ninguém irá lutar por você.
17. Apóie outra garotas e mulheres, não as julgue ou menospreze. Nós precisamos umas das outras. Acredite em mim.
18. Levante a voz – mas nunca os punhos – para exigir justiça para si mesma e para outros.
19. Vote. Estou falando sério, vote consciente. E não só para presidente, mas para os representante municipais e estaduais também.
20. Vote com o seu bolso, também. Apóie empresas lideradas por mulheres, que apóiam as mulheres e defendem as escolhas das mulheres.
21. Viaje sempre que puder. Ainda que você não consiga viajar fisicamente para lugares distantes, leia sobre eles. Assista documentários. A exposição a outras culturas é essencial para desenvolver a tolerância e a compreensão.
22. Use seus privilégios [financeiros, raciais, acadêmicos] para o bem. Você tem recursos e uma voz que, por várias razões, será ouvida acima de outras vozes. Você tem o dever de usá-la para ajudar outros e tentar erradicar a opressão.
23. Ter olhos bonitos e cabelos sedosos é legal. Mas nem se compara à beleza da pessoa auto-confiante e apaixonada por algo.
24. Não há nada de errado em gostar das mesmas coisas que os seus amigos gostam – se você realmente gostar também. Mas não tenha medo de ser diferente da maioria e ter paixão por alguma coisa que não é ‘legal’ ou ‘da hora’.
25. Nunca confunda o assédio sexual ou cantadas baratas com elogios.
26. Sim significa sim.
27. Só porque você é mulher não significa que você tem que se casar e ter filhos. Nem todo mundo quer essa vida, e não há problema nenhum nisso.
28. Não peça desculpa só por pedir. As mulheres tendem a dizer “Me desculpe” por ofensas bobas – como ficar parada bem no meio do corredor no supermercado quando outra pessoa quer passar. É chato e desnecessário.
29. Não tenha medo de ser “mandona.”
30. Tenha a sua própria conta bancária. A independência financeira é essencial para o seu bem-estar.
31. Namore apenas com caras pró-escolha (se você quiser namorar homens). Você merece algo melhor do que se relacionar com alguém que acha OK te dizer o que você pode/deve fazer com o seu corpo.
32. Essa é muito importante: nunca, nunca, nunca se acomode. Você pode ter o direito de votar, acesso a métodos contraceptivos e a possibilidade de namorar quem você quiser, mas as coisas nem sempre foram assim. As mulheres lutaram e até morreram para garantir esses direitos dos quais você usufrui hoje. E a sua geração tem seus próprios desafios a enfrentar.
25 lições feministas para os meus filhos
Texto publicado originalmente no site sherights.com.
Fonte: BrasilPost