Tráfico de drogas sob as lentes do jornalismo

As histórias do tráfico nem sempre são contadas. Jornalistas de peso, o brasileiro Caco Barcellos e o britânico Misha Glenny se reuniram na Tenda dos Autores e reviveram o processo de reportagem para livros seus que trataram do assunto. Respectivamente, Abusado: o dono do Morro Santa Marta e O Dono do Morro, biografia do traficante carioca Nem lançada na Flip. Sob o título “Os olhos da rua”, a mesa atravessou temas cruciais como política de combate às drogas, desigualdade social e desafios da prática jornalística nos dias de hoje.

Do Flip

“Eu estava no Rio quando o Nem foi preso, foi curioso. Eu vi como a metade da cidade o considerava um demônio e outra metade o considerava um herói, um Robin Hood”, lembrou Misha. Caco, por sua vez, contou das críticas que recebeu ao publicar a obra, entre elas a de dar voz a um bandido. “E eu perguntava: ‘então, por que no caso de um governador que desvia grandes quantias de verba você dá voz a esse tipo de pessoa?'”.

 

Para entrevistar Nem, Glenny aprendeu português e instalou-se como morador da Rocinha. “Você tem que experimentar o saneamento a céu aberto, o barulho, o cocô de cachorro por todos os lados. E eu, já um inglês de 50 e poucos anos, não foi fácil”, ironizou. Embora tenha atuado como repórter de guerra – mencionou especialmente sua cobertura na ex-Iuguslávia –, frisou a gravidade do que acontece no Brasil. “Acho que a UPP está colapsando. Na Rocinha, na Maré, no Complexo do Alemão e em outras favelas. Acho que a situação ficará estável até o fim dos jogos olímpicos, mas quando o mundo tirar os olhos, ninguém pode prever o que vai acontecer no Rio de Janeiro.”

 

Ao abordar a questão da descriminalização das drogas, Caco foi enfático. “Eu repetiria aqui um conceito que alguns intelectuais do Rio estão levando à frente, que é: ‘quem proíbe drogas está a favor do tráfico’. Concordo totalmente.” E avançou no argumento: “É muito hipócrita você fazer o combate as drogas tirando dele o álcool, grande responsável pelas morte no Brasil. Acho de uma hipocrisia preocupante”.  O debate foi aplaudido de pé ao final.

+ sobre o tema

Simbolismo de posse de Barbosa não pode ser negado, diz Luiza Bairros

A ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, afirmou nesta...

Breno Altman: Conservadorismo de branco é a vanguarda do atraso

Para o jornalista e editor do site Opera Mundi...

para lembrar

Dilma e a imprensa livre

"Uma imprensa livre, pluralista e investigativa é imprescindível para...

O racismo na televisão

Por Tainá Ribeiro Piton Definitivamente, não é de...

Corinthians celebra primeira vacinada no Brasil: “corintiana de Itaquera”

O Corinthians comemorou hoje a vacinação de Monica Calazans,...

8 de março: Mulheres com nível superior ganham ainda menos do que os homens, diz IBGE

Completar o nível superior não garante às mulheres a...
spot_imgspot_img

Comissão Arns apresenta à ONU relatório com recomendações para resgatar os direitos das mulheres em situação de rua

Na última quarta-feira (24/04), a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns, em parceria com o Movimento Nacional...

Estudo relata violência contra jornalistas e comunicadores na Amazônia

Alertar a sociedade sobre a relação de crimes contra o meio ambiente e a violência contra jornalistas na Amazônia é o objetivo do estudo Fronteiras da Informação...

Brasil registrou 3,4 milhões de possíveis violações de direitos humanos em 2023, diz relatório da Anistia Internacional

Um relatório global divulgado nesta quarta-feira (24) pela Anistia Internacional, com dados de 156 países, revela que o Brasil registrou mais de 3,4 milhões...
-+=