Pequenas felicidades

Para quase todos, chega uma época em que os lençóis não se incendiam mais, em que os espelhos perdem sua generosidade. É quando nos tornamos matematicamente pessoas com o tempo passado mais extenso do que os possíveis anos futuros.

Por Fernanda Pompeu em seu blog 

Foto: Lucíola Pompeu

É mais ou menos nesse degrau de vida que passamos a prestar atenção nas pequenas felicidades. Aquelas que nos abraçam mansas e despretensiosas. Elas nem batem à porta, vão entrando com a intimidade das sandálias velhas.

Se comparássemos a um gênero musical, a pequena felicidade seria mais bossa nova do que samba. Mais música de câmara do que sinfonia. Também seria mais igrejinha de bairro do que catedral. Mais lojinha de esquina do que lojona de shopping.

De alguma maneira, penso que precisamos envelhecer para notar e valorizar o detalhe, a meia palavra, a atmosfera. Talvez isso ocorra porque os olhos já quase tudo viram, os ouvidos escutaram risos e dores. E a boca muito falou, muito beijou, muito calou.

Faz 4 anos, tive essa experiência de felicidade. Aconteceu na praça Vicentina de Carvalho, na paulistana Vila Madalena. Estávamos eu, meu pai, minha mãe. Ele com 83 anos. Ela, 80. Eu, mocinha, com meus 57.

Irei descrever a cena. Meu pai sentado na cadeira de rodas, minha mãe, ao lado dele, sentada numa cadeirinha desmontável. Os dois debaixo de uma frondosa árvore. Réstias de sol iluminavam os rostos e os olhos deles.

Imitei a pintora que para avaliar o quadro que está trabalhando se afasta para enxergar melhor. Foi o que fiz, me distanciei alguns metros. Daí pude ver a mulher e o homem vividos,  agridocidados pelas experiências. Será que sonhando nuvens?

Estavam tão plenos! Exatamente montados no presente. Ao contrário de mim, não tinham nenhuma agonia de agendas e relógios. Eles apenas olhavam para o sutil bater do vento nas flores de um manacá.

isso? Entendi que era tudo isso. A vida se apresentando sem artifícios, sem subterfúgios. Nua. Presenciá-los sentados em suas cadeirinhas, entregues à concretude do instante, me encheu de felicidade. Da grande felicidade.

Leia o começo desse casamento em Taubaté

+ sobre o tema

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na...

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz...

para lembrar

Explicando o Bolsa Família para Ney Matogrosso

Criticado por Ney Matogrosso e peça da campanha de...

Decisão da ONU reforça recurso de Lula no STF

Defesa de Lula anunciou que levará ao STF a...

Brasil tem 1,3 milhão de quilombolas em 1.696 municípios

A população quilombola do país é de 1.327.802 pessoas,...

No lançamento de Serra, PSDB decide “esconder” FHC

Por: NOELI MENEZES, FERNANDA ODILLA, PATRÍCIA GOMES   Ex-presidente fica fora...

Foi a mobilização intensa da sociedade que manteve Brazão na prisão

Poucos episódios escancararam tanto a política fluminense quanto a votação na Câmara dos Deputados que selou a permanência na prisão de Chiquinho Brazão por suspeita do...

MG lidera novamente a ‘lista suja’ do trabalho análogo à escravidão

Minas Gerais lidera o ranking de empregadores inseridos na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A relação, atualizada na última sexta-feira...

Conselho de direitos humanos aciona ONU por aumento de movimentos neonazistas no Brasil

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, acionou a ONU (Organização das Nações Unidas) para fazer um alerta...
-+=