Eu, um garoto negro e a crise da Srta. Morello

A foto que marcou o primeiro dia de 2018, me gera uma pergunta apenas: Quantos clicks me tornam o estereótipo sonhado da burguesia?

Por Marcelo Rocha, do Medium

Foto: Lucas Landau

É duro começar o segundo dia do ano falando desse tema: Estereótipo. A foto que marcou o primeiro dia do ano é o exemplo mais claro — Literalmente — daquilo que é o estereótipo de pessoas negras na sociedade. Pensar que, entre inúmeros garotos e garotas na praia vendo os fogos no céu, um chama atenção do fotógrafo e o mesmo recebe uma história que supostamente vive.

O olhar de quem fotografa é definido pelo que vive e acredita. Fotografia sempre foi uma paixão que tenho desde a infância e tive a oportunidade de me tornar um aprendiz na adolescência fotografando tudo e até hoje a paixão pelo fotojornalismo. Na rua, forjamos nossos olhares. Toda foto é ideológica e está carregada de significados. De cara quando vejo o trabalho do Landau é perceptível a sensibilidade para tal.

Do mesmo modo, ao refletir sobre o conteúdo que aquele texto em forma de imagem, vejo um garoto assim como eu. Um garoto. Lembro bem quando fui a praia ver os fogos a primeira vez, fiquei lembrando daqueles meus olhos curiosos e medrosos ao mesmo tempo. A água gelada batia em meu corpo e tudo que queria era pular as 7 ondas mais uma vez, repetidas vezes. Era um espetáculo tudo aquilo. Esse click poderia ter sido do garoto Marcelo na praia de Mongaguá no litoral Sul de São Paulo. Ambos garotos, só saberei suas histórias quando me for informado, não é necessário criar de forma que me agrade.

A crise não muda, é aquela que foi retratada na série americana “Todo mundo odeia o Chris”. A personagem Srta. Morello (Jacqueline Mazzarela) retrata uma pessoa branca que reconhece seus privilégios, mas de forma tão soberba que realmente se acha superior em tudo e acredita que todos os negros dependem de sua ajuda e assistência. Vê se em vários episódios a professora do protagonista da série Chris Rock (Tyler James Williams) com suas “melhores intenções” tentando ajudar o personagem em sua história trágica que criou em sua mente.

O fotógrafo humanitário de alma negra ainda é lucro pro mercado. Por essa é por outras que disse em um dos meus últimos textos na mídia NINJA sobre o Eduardo Martins o fotógrafo humanitário fake, milhares de likes, seguidores e compartilhamentos dos olhinhos azuis nas lentes pela África. Só criaram ele pois existe um povo sedento por ser a Srta. Morello. Se quer ser de verdade, mas ao menos compartilhar a foto ou digitar um amém.

Logo que havia viralizado nas redes sociais, observei aquela bela fotografia, mas eu não compreendia as legendas e textos que acompanhavam a imagem. Gostaria muito de ver o mesmo número de pessoas que clamavam por justiça social na frente do TJRJ teriam liberto Rafael Braga. Imagina só, os mesmos nas lutas pela previdência ou reforma trabalhista que tanto afetam o futuro do garoto. Seria de grande ajuda que os estudantes tivessem esse apoio na luta contra a Deforma do ensino médio. Mas não, o mais humano possível é compartilhar uma foto esteriotipada.

Por fim, deixo esse trechinho da animação Static Shock que diz muito em poucas palavras.  Em uma conversa com seu amigo branco que está nos EUA, o herói diz: “Na África, eu não sou um garoto negro. Eu sou só um garoto.”

(Perdão, o texto não foi revisado. Deve ter uns erros gramaticais ai )

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