Herói do Mali que salvou criança vai receber nacionalidade francesa

Mamoudou Gassama salvou uma criança de quatro anos de cair de uma varanda, ao escalar a pulso quatro andares no norte de Paris. O ato heroico do jovem de 22 anos, um “sem papéis” vindo do Mali, valeu-lhe um encontro com o Presidente francês, a regularização, a hipótese de ter cidadania francesa e um lugar nos bombeiros.

no RPT

“Não pensei em mais nada, pensei em salvá-lo e graças a Deus, salvei-o”. As palavra são de Mamoudou Gassama, em entrevista à BFMTV. Uma forma simples de descrever o que milhares chamam de ato heroico deste jovem.

Gassama parou junto a um edifício onde uma pequena multidão de pessoas se aglomerava porque no quarto andar do edifício estava uma criança pendurada numa varanda, prestes a cair. Eram 20h00 de sábado.

Thibault Camus/Pool via Reuters

Mamoudou apressou-se a fazer o que poucos teriam imaginado fazer: subiu quatro andares, pelo exterior do edifício, saltando de varanda em varanda, a pulso. Conseguiu chegar ao menino de quatro anos e salvá-lo. O vídeo, capturado por alguém na multidão, tornou-se viral nas redes sociais.

“Quando o agarrei nos meus braços, perguntei-lhe porque estava ali pendurado, mas ele não me respondeu”, disse Mamoudou.

French President Emmanuel Macron (L) meets with Mamoudou Gassama, 22, from Mali, at the Elysee Palace in Paris, France, May 28, 2018. Mamoudou Gassama living illegally in France is being honored by Macron for scaling an apartment building over the weekend to save a 4-year-old child dangling from a fifth-floor balcony. Thibault Camus/Pool via Reuters – RC17E8529380

O ato valeu-lhe mais do que um aplauso nas redes sociais. Esta segunda-feira foi chamado ao Eliseu, para se encontrar com o Presidente francês. Emmanuel Macron fez o que a associação SOS Racismo e uma petição online com mais de cinco mil assinaturas já pedia: anunciou que vai regularizar a sua situação no país e garantiu que os bombeiros de Paris já têm uma vaga para o acolher nos seus serviços. Macron convidou-o igualmente a apresentar um pedido de naturalização em França, o que Mamoudou aceitou.

Mamoudou contou a Macron como salvou o menino. Confessou que, depois de já ter a criança nos braços, aí começou a tremer, enquanto a criança chorava em estado de choque.

“É um ato excecional, um ato heroico. Eu gostaria que pudéssemos tomar uma decisão igualmente excecional por si”, disse o presidente a Mamoudou, visivelmente emocionado. Macron frisou tratar-se de uma exceção, já que se trata de um migrante que não pediu asilo, não poderia ser regularizado.

“Não podemos dar documentação a todos os que chegam do Mali, do Burkina. Quando estão em perigo, concedemos asilo, mas não por razões económicas”, acrescentou. “Mas no que lhe diz respeito, você fez qualquer coisa de excecional. Mesmo que não tenha refletido sobre isso, é um ato de coragem e de força que provocou a admiração de todos”, disse o Presidente.

Gassama não escondeu a emoção. “Fico feliz porque é a primeira vez que ganho um troféu”, confessou. O troféu? Um diploma e uma medalha “pelo ato de coragem” que recompensa “todos aqueles que, com perigo de vida, vão socorrer uma ou mais pessoas em risco de morte”.

Desde domingo que a história enche os jornais franceses e não só. Até mesmo o vice-presidente da Frente Nacional, partido da extrema-direita, Nicolas Bay, disse estar de acordo com a regularização do jovem indocumentado, “devido ao seu ato de bravura”. O porta-voz do Governo exaltou o ato, “fiel aos valores da solidariedade da nossa República”. Ainda este domingo, a presidente da Câmara de Paris tinha elogiado a conduta do jovem.

Anne Hidalgo falou com Mamoudou. “Ele contou-me que chegou do Mali há poucos meses, sonhando construir aqui a sua vida. Eu respondi-lhe que o seu gesto heroico é um exemplo para todos os cidadãos e que a cidade de Paris vai apoiá-lo nos passos para se estabelecer em França”, acrescentou.

De acordo com a imprensa francesa, que cita fontes judiciais, o pai do menino, um homem nascido em 1981 e sem antecedentes criminais, terá sido detido para interrogatório por ter deixado o filho sem vigilância. A criança de quatro anos terá sido acolhida numa instituição. A mãe não estaria em Paris à altura dos factos.

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