Pan-africanismo: tendências políticas, Nkrumah e a crítica do livro Na Casa De Meu Pai

Enviado por / FonteMárcio Paim, da Revista USP

Resumo:

O objetivo desse artigo é contribuir para ampliação de informações sistematizadas sobre a narrativa e a evolução da ideologia Pan-Africana a partir de uma breve retrospectiva histórica de seu surgimento e da formação de suas variadas tendências, desconstruindo a ideia de “uniformidade ideológica”.
Palavras-Chaves: Pan-Africanismo; África; ideologia

Abstract:

The aim of this article is to contribute with further information on the narrative and evolution of Pan-africanist ideology through historical perspective, regarding its origins and its diversity of trends, and breaking with the idea of a monolithic ideological thought.
Keywords: Pan-Africanism; Africa; Ideology.

1 – Pan-Africanismo: origem e evolução

Antes de dar início à narrativa do surgimento da ideologia Pan-africana, duas observações devem ser feitas. A primeira refere-se a sua semântica. Embora a nomenclatura Pan-africanismo, a primeira vista, deixe implícita uma relação estreita com o continente africano, cabe ressaltar, que essa ideologia tem sua origem nos países de colonização inglesa3. A segunda é que a ideologia Pan- africana pode ser entendida ou abordada sob duas perspectivas. Uma, quanto projeto de libertação – que será tratado nesse artigo – e outra quanto projeto de integração. Dessa maneira, para o entendimento do Pan-africanismo como ideologia de libertação torna-se imprescindível a compreensão do contexto o qual o mesmo surgiu e que suas vertentes políticas foram consolidadas.

É importante compreender que antes da formação do movimento Pan-africano como movimento político, o Pan-africanismo origina-se da oposição aos tráficos escravistas nas Américas, Ásia e Europa, onde foram materializados os experimentos psicológicos e sociais que fizeram surgir movimentos de protesto e revoltas de cunho internacional que reivindicaram a libertação dos africanos escravizados, bem como a liberdade e a igualdade das populações africanas no estrangeiro4. No seu início, o Pan-africanismo era apenas uma reduzida manifestação de solidariedade, restrita às populações de ascendência africana das Antilhas Britânicas e dos Estados Unidos. Logo, é importante ressaltar que, até a primeira reunião Pan-Africana a denominação “Pan- Africanismo” não havia sido inserida, ficando a reunião identificada como a “Conferência dos povos de cor”.

A primeira “conferência dos povos de cor”, pensada por Henry Silvester Williams em 1890, devido aos entraves burocráticos, só pôde acontecer dez anos depois em 1900 na Inglaterra. Henry Silvester Williams (1869-1911) graduou-se em direito indo trabalhar na África do Sul. Especializou-se em questões agrárias no fórum inglês onde teve a possibilidade de estabelecer estreitas relações com as populações do oeste africano de colonização inglesa, tornando-se uma espécie de conselheiro jurídico. Antes de viajar para África do Sul, Williams foi responsável pela fundação da Associação africana para promoção e proteção dos interesses de todas as pessoas de ascendência africana. Como conselheiro, Silvester Williams aconselhou chefes bantus5 na África meridional, os quais suas terras eram alvo do interesse dos colonizadores bôers6. Da mesma forma, auxiliou no aconselhamento os chefes Fantis7, cuja suas terras originais os ingleses objetivavam transformar em propriedade da coroa britânica.

Coube ainda a Henry Silvester Williams em 1900 a iniciativa da organização em Westminister Hall, Londres, da primeira Conferência dos povos de cor que tinha como objetivo de reivindicar o açambarcamento por parte dos países europeus das terras consuetudinárias das populações africanas. De acordo com as informações fornecidas por William Bugart Du Bois, contemporâneo e seguidor de Silvester Williams a reunião de Londres foi importante por que:

“Colocou pela primeira vez em moda a palavra “pan-africanismo”. (…) o apelo lançado pelos trinta e tantos delegados ao cabo dos seus trabalhos foi, graças sem dúvida à complacência do bispo de Londres, ouvido da rainha Vitória. E, por intermédio de Joseph Chamberlain, houve por bem a Augusta soberana fazer saber a Silvester Williams o seu cuidado” de não perder vista dos interesses e do bem-estar das raças indígenas”.

É importante frisar que apesar do espaço ocupado por Henry Silvester Williams na construção da ideologia pan-africano ele não foi o “único” protagonista responsável por tal construção devendo-se considerar uma ampla lista de defensores que caíram no esquecimento.

Dessa maneira, por ser uma lista difícil de reconstruir, bem como, pouco instrutiva em termos quantitativos, credita-se a Silvester Williams o papel precursor de uma das ideologias – juntamente com o nacionalismo africano e as negritudes – centrais para a descolonização do continente africano.

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