Pixador racista da Unicamp será investigado apenas por dano ao patrimônio

Apesar de ter pichado símbolos nazistas e feito ameaças, inicialmente o jovem será investigado apenas por dano ao patrimônio

por Sarah Brito no ACidadeON/Campinas

O jovem que pichou símbolos nazistas e ameaças na biblioteca do IEL (Instituto de Estudos Linguísticos), no banheiro do IG (Instituto de Geociências) e na Biblioteca Central e Ciclo Básico da Unicamp pode ser preso por até três anos, dependendo do resultado das investigações da Polícia Civil.

Inicialmente, a polícia abriu inquérito apenas para apurar o crime de dano ao patrimônio público, que prevê pena de um a três anos de reclusão. O delegado Cássio Vita Biazolli, do 7º Distrito Policial, em Barão Geraldo, disse que também vai averiguar os crimes de apologia ao nazismo e ameaça. “Mas, no caso da ameaça, não há vítima individualizada”, disse o delegado.

Ele também pode sequer chegar a ser punido – a polícia solicitou exame de sanidade mental, e se ele for considerado incapaz, não responde pena. A mãe do jovem disse ao delegado que ele foi diagnosticado com esquizofrenia na adolescência, e há dez anos não faz mais tratamento para a doença. Nos últimos meses, segundo familiares, estava mais calado e agindo de forma “estranha”.

O jovem de 29 anos, que não teve o nome revelado pela polícia ou pela Unicamp, foi detido na manhã desta sexta-feira (17). Ele foi ouvido pelo delegado e negou ter feito as pichações – embora as câmeras de monitoramento mostrem que ele esteve na biblioteca do IEL na noite de terça-feira (15) com uma caneta vermelha, mesma cor usada nas mensagens escritas em mesas e tela de computador. Após prestar depoimento, foi liberado.

As pichações incluíam símbolos nazistas e ameaças como “vai ter massacre #Columbine” (uma alusão ao ataque a uma escola dos EUA que deixou 15 mortos em 1999) e “vai ter chacina”. O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, que também se manifestou sobre o caso nesta sexta (leia mais abaixo), disse que não sabe qual a motivação, mas que a ação estaria ligada à “polarização da sociedade e ao racismo”.

À polícia, o jovem afirmou que não é racista e disse que não desenha a suástica – o delegado pediu que ele fizesse o desenho do símbolo nazista. O suspeito também afirmou que não integra nenhum partido político, não tem perfis em redes sociais e nunca teve armas registradas em seu nome. “Ele não tem nenhum histórico de violência. Zero”, disse o delegado.  A polícia também foi até a casa dele, cujo o bairro não foi divulgado, mas não apreendeu nenhum objeto.

O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, durante entrevista na tarde desta sexta-feira (17) na Unicamp (Foto: Luciano Claudino/Código 19)

ESTUDANTE DESDE 2008

O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, disse que o pichador entrou na Unicamp em 2008 para cursar estatística. No ano seguinte, foi aprovado no vestibular para matemática aplicada e, em 2011, entrou em ciência da computação. Foi jubilado (desmatriculado) dos três cursos, sendo o último desligamento no primeiro semestre deste ano. “Ele não está mais ligado à universidade”, disse Knobel.

O reitor também afirmou que o jovem nunca teve seu nome envolvido em incidentes violentos. “Também nunca solicitou nenhuma bolsa-auxílio ou apoio psicológico oficial à universidade”, disse o reitor.

Redes Sociais / ACidadeON/Campinas
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