É preciso ‘amazonizar’ o Brasil

Nos dias em que permaneci em Belém, reafirmei a convicção do quanto o Brasil se menospreza

Estive no “centro do mundo”. É assim que a Amazônia é chamada pela jornalista Eliane Brum e eu acredito que ela foi muito feliz nessa definição. Afinal, tudo indica que o futuro do planeta está conectado ao destino dessa região do Brasil.

Num mundo assolado por fenômenos climáticos cada vez mais extremos, o que acontece no bioma que concentra 80% da biodiversidade do globo terrestre é muito relevante. Não por acaso, a edição 2025 do evento internacional mais importante sobre clima, a COP30, ocorrerá no Pará.

Vista aérea da aldeia Katõ, na Terra Indígena Mundurucu, no Pará. A comunidade, localizada às margens do rio Kabitutu, está cercada por garimpos ilegais – Lalo de Almeida/Folhapress

Para os povos da Amazônia, a terra não é propriedade. Deve ser preservada. Trata-se de um lugar de memória, de vivência e de respeito aos antepassados. Mas, por razões diversas, nos dias em que permaneci em Belém, capital do Estado, reafirmei a convicção do quanto o Brasil se menospreza, desrespeita e desconhece.

São muitas as nuances culturais, naturais e sociais que nos distinguem —inclusive de nós mesmos. Porém, toda essa diversidade —que, na verdade, constitui uma riqueza sem igual — não é devidamente valorizada.

Impressionante as potencialidades que seguimos desperdiçando — por desinteresse, ignorância ou pura ganância. “A Amazônia é mulher e é invisibilizada como acontece com as mulheres que fazem várias entregas diárias e não são reconhecidas”, comentou meu amigo paraense Edney Martins, ao fazer uma comparação entre o ecossistema e a economia do cuidado.

Desde a década de 1970, o termo “Amazonizar” aparece em documentos da Igreja Católica. Numa carta pastoral da Diocese de Rio Branco (AC), “o povo de Deus e toda a Igreja” foram convocados a assumir a causa da Amazônia, a defesa da floresta e de seus povos.

Ao encerrar o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, no Vaticano, em 2019, o papa Francisco fez a seguinte observação: “Na Amazônia aparece todo tipo de injustiça, destruição de pessoas, exploração em todos os níveis. E destruição da identidade cultural”. Até quando?

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