Em encontro de Geledés sobre empoderamento econômico em Nova York, organização cobra políticas públicas voltadas às mulheres negras

Coordenadora do instituto, Nilza Iraci, na presença da ministra Cida Gonçalves e da primeira-dama Janja, ressalta que as trabalhadoras enfrentam discriminação racial regular no mercado de trabalho

“Esta é uma oportunidade para debater o impacto das questões cruciais relacionadas à (in)visibilidade da raça, quando falamos em gênero, para refletir sobre pobreza intergeracional e apresentar nossas preocupações, com os desafios para a construção de estratégias que possibilitem a emancipação econômica e financeira de mulheres negras, fugindo da armadilha da narrativa mercadológica do empreendedorismo, que não tem conexão com a realidade social dessa parcela da população”, disse a coordenadora de Geledés na área de Políticas de Promoção da Igualdade de Gênero e Raça, Maria Sylvia de Oliveira, em sua fala de abertura do evento “Estratégias para o Empoderamento Econômico da Mulher Negra”, que ocorreu nesta quarta-feira 13, em paralelo à 68ª Comissão Sobre o Status da Mulher (CSW 68), em Nova York.

Fizeram parte deste encontro a primeira-dama Janja Lula da Silva, a ministra da Mulher, Cida Gonçalves, a diplomata e subchefe da divisão de Temas Sociais do Ministério das Relações Exteriores, Rafaela Seixa Fontes, a deputada federal Benedita da Silva, a coordenadora de Geledés na área de Advocacy e Incidência Política, Nilza Iraci, e virtualmente a ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco.

A coordenadora Nilza Iraci fez uma correção importante nos discursos relacionados às mulheres negras no Brasil, que, segundo ela, “são tratadas equivocadamente como minorias, uma vez que elas formam o maior grupo populacional brasileiro, com 60,6 milhões de mulheres afrodescendentes, respondendo por mais de 28% da população total brasileira”. “Se as mulheres negras fossem um país, seriam pouco maiores que as população da Colômbia e 27 vezes maior que a Jamaica”, disse ela.

Foto: Natalia Carneiro

Nilza Iraci também sublinhou que a emancipação econômica tem sido um objetivo permanente para as pessoas afrodescendentes em todo o mundo. “Em meio a diversas condições adversas, os trabalhadores afrodescendentes, e em especial as mulheres trabalhadoras, geralmente enfrentam discriminação racial regular no mercado de trabalho, recebem baixos salários, têm menor acesso a boas oportunidades e promoções, e são menos beneficiadas durante o crescimento econômico, sendo mais vulneráveis à demissão durante a retração econômica”, afirmou.

A coordenadora de Geledés na área de Advocacy e Incidência Política também ressaltou que ao buscar o empreendedorismo, as mulheres negras têm mínimo acesso ao crédito. “As trabalhadoras afrodescendentes enfrentam taxas mais altas de informalidade e desemprego em comparação às trabalhadoras brancas e brancos”, disse.

Outro ponto importante levantado pela coordenadora é que a experiência internacional de luta das pessoas afrodescendentes pela liberdade “mostra que seria ingênuo supor que o empoderamento e a emancipação econômica seria, por si só, suficiente para superar séculos de injustiça racial segregação e sexismo”. Ou seja, destaca aqui a necessidade de haver políticas públicas e investimentos voltados às mulheres com o recorte racial em todos os segmentos do mercado, o que criaria benefícios diretos à sociedade brasileira como um todo.

“A emancipação econômica não deve ser vista como sinônimo de uma atitude – típica nos dias atuais – que coloca a realização individual à frente do desenvolvimento e bem-estar da comunidade, não menos cruciais, no sistema político e nos direitos coletivos de participação, garantias de direitos humanos, igualdade de gênero e raça e proteção ambiental”, disse Nilza.

Em sua fala, Cida Gonçalves ressaltou a política de transversalidade do atual governo nas políticas públicas e afirmou que “as desigualdades sociais têm raça, cor, etnia e a questão do respeito aos Direitos Humanos”. E frisou: “não dá para se discutir gênero, sem discutir a questão do racismo. Você não discute a violência contra as mulheres se você não discute os números do feminicídio. Mais de 60% das mulheres que sofrem feminicídio no Brasil são mulheres negras. Você vai discutir a fome, a pobreza, dos 33 milhões que estão passando fome, mais de 80% são mulheres negras”. Nesta direção, a primeira-dama Janja, ao alavancar projetos do atual governo, afirmou que “a gente precisa de políticas públicas estruturantes para que se consiga chegar ao objetivo de igualdade de gênero e de raça”.

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