Silêncios que gritam

25/08/25

Silêncios que gritam é o título de um dos volumes da trilogia intitulada “Cemitério dos Pretos Novos do Valongo – Uma Jornada Impactante pela História da Escravidão no Brasil”. Organizada pelo Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), a obra é composta pela coletânea das transcrições do que se salvou dos Livros de Óbitos da Freguesia (da igreja) de Santa Rita, responsável pelo Cemitério dos Pretos Novos do Valongo (RJ).

Muito da história do tráfico humano de africanos escravizados e trazidos para o Brasil é irrecuperável. Do Valongo, restaram os registros de apenas 12 dos 44 anos de operação do Cemitério. As informações sobre os demais 32 anos foram perdidas para o apetite das traças, a proliferação do mofo e o descaso de uma nação que escolheu dar as costas para o passado, renegando a sua história.

A imagem é a capa de um livro intitulado "Silêncios que Gritam: Testemunhos da Escravidão Africana no Rio de Janeiro". O fundo apresenta uma ilustração em tons de marrom, mostrando figuras de homens, possivelmente escravizados, em uma cena de trabalho. O título do livro está em destaque na parte superior, em letras grandes e vermelhas. Abaixo do título, há uma descrição que menciona a análise de documentos relacionados ao cemitério de escravos. O autor do livro é João Carlos Nara Jr., e há logotipos de instituições na parte inferior da capa.
A obra “Silêncios que Gritam”, escrita por João Carlos Nara Jr. e organizada pelo Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN) – Reprodução

Por sorte, o pouco que restou dessa memória no nosso país é o bastante para comprovar as atrocidades praticadas contra os homens, as mulheres e as crianças raptados na África, uma gente privada de direitos humanos até depois da morte.

A trilogia lançada pelo IPN reúne dados sobre os navios tumbeiros (em razão do alto índice de mortalidade, assim eram chamadas as embarcações que cruzavam o oceano carregadas de pessoas negras escravizadas). As nações de origem. Os portos de embarque. As marcas (pelo menos cinco entre a captura e a venda) forjadas a ferro em brasa sobre a pele negra desde o momento da captura em África até o desembarque na América. A obra está dividida nos títulos “A morte no Valongo”, “O Cais e o Cemitério” e o já referido “Silêncios que gritam”.

É mais do que o suficiente para iluminar as ideias daqueles que ainda não entenderam que o impacto dos séculos de escravização negra repercute na contemporaneidade. Qualquer um capaz de “juntar lé com cré” já deveria saber que o racismo está na origem das enormes mazelas sociais, econômicas e culturais que penalizam milhões de brasileiros. Afinal, há silêncios que gritam.


Ana Cristina Rosa – Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Geledés Instituto da Mulher Negra
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