Por: Fátima Oliveira
Queimava neurônios sobre o que escrever numa conjuntura-juquira quando li a manchete: “Fome diminui no Brasil, mas cresce no mundo”. Sapeei e fui ler meus e-mails. Compartilho um da lavra de uma amiga, neurologista mineira, amante do “Rio do Chico” e tiete de Guimarães Rosa, talvez porque disse, pela boca de Riobaldo, que “O Sertão é do tamanho do mundo. Agora, por aqui, o senhor já viu: rio é só São Francisco, o Rio do Chico. O resto pequeno é vereda. E algum ribeirão”.
Elisabeth Regina Comini Frota fala do viver num Estado capitalista de bem-estar social (Welfare State, o mesmo que Estado-providência): “Fátima, nos últimos dias tem me incomodado demais e-mails e calúnias com fins eleitoreiros. Uma das coisas que mais falam mal do governo Lula é que ele dá mamata para as pessoas com o Bolsa Família. Acabei de passar pela Suécia (monarquia parlamentarista), onde tive uma guia brasileira que vive lá há vários anos, que contou que lá, país de Primeiro Mundo, um dos mais ricos, cada família recebe uma ajuda de custo de 1.180 mensais por filho. Isso só para despesas com leite, fraldas e roupas! O ensino e a saúde são totalmente de graça. Se o filho vai para universidade pública fora de casa, recebe uma ajuda de custo de 3.000 por mês. A licença-maternidade é de um ano e a paternidade de seis meses iniciais e mais seis meses em épocas separadas. E há gente brasileira idiota falando que uma ‘bolsinha família’ de poucos reais está deixando os brasileiros preguiçosos. Cada vez mais tenho certeza de que gostei deste governo e entendi como cuidar do povo só traz desenvolvimento. Abraços da Beth (Amsterdam, 17.10.2010)”.
Pelo andar da carruagem do analfabetismo político, movida a carolice, beatice, santice, novas e velhas pentecostices – faces do conservadorismo fundamentalista e intolerante com as religiões de matrizes afro – e preconceitos (“Cansei de sustentar vagabundo!”), urge dizer que quem vai no rumo (eu disse: “no rumo”!) de vincar um Estado de bem-estar social é o PT, já que, contraditoriamente, quem carrega no nome a social democracia não tem tal perspectiva.
Nem preciso gastar meu latim. Nos governos que os “muy amigos” tocaram sem ternura não há gente a ser embalada e cuidada, é só mercado, mercado… E para quem tem medo do socialismo, esqueça! O PT não é socialista, apenas social-democrata, e só aspira gerenciar a crise do capitalismo, extraindo dela bem-estar social, expresso de modo inequívoco na frase que fala por si: “Queremos um Brasil de classe média”. E ponto final!
Não “endireitei” e nem surfei na onda de que o estágio último do desenvolvimento da humanidade é o Estado de bem-estar social. A história registra que a humanidade avança – de uma sociedade de tipo inferior, quanto às relações sociais de produção, para outra de tipo superior. Há luz no fim do túnel: a igualdade social e a superação do racismo e do machismo!
Esse lero todo responde aos e-mails que indagam se sou PT. Nunca fui. Nem tive vontade.
Minha roça é outra. Vejo a social-democracia como ela é: reformista – um amaciante das mazelas do capitalismo. Por referendar aportes a mais cidadania no hoje, com sonhos, mas sem ilusões, votei Lula sempre que foi candidato a presidente. Luto por um Estado – infelizmente, não ventilado no atual debate eleitoral teocrático – pautado pelas liberdades democráticas e laicas; e pela justiça social, racial e de gênero.
Como livre pensadora, é de olho no futuro que sonho que eu voto.
Fonte: O Tempo