Nova pesquisa revela distinção na linguagem usada por cada gênero, além de como isso impacta a repercussão de trabalhos
Por Sabrina Brito, da Veja

De acordo com um estudo realizado por cientistas das universidades Harvard e Yale, nos EUA, e Mannheim, na Alemanha, a linguagem utilizada por pesquisadores e pesquisadoras em seus artigos é muito diferente, e isso pode influir no sucesso que seus trabalhos têm. Publicada ontem (16) no periódico científico BMJ, a pesquisa é a primeira em grande escala a quantificar diferenças nas palavras usadas por cada gênero em trabalhos biomédicos.
Os cientistas analisaram mais de 6 milhões de publicações e constataram que artigos em que os autores principais são homens possuíam até 21% a mais de chance de usar uma linguagem positiva e otimista, que coloca os achados em alto grau de importância, em comparação às suas contrapartes femininas. Segundo o estudo, os títulos e resumos das pesquisas lideradas por homens usavam mais frequentemente palavras como “excelente”, “único” e “inovador”.
Consta ainda que artigos em que o primeiro e último autor são mulheres apresentavam 12,3% menores chances de usar expressões positivas para descrever achados, do que aqueles em que o primeiro e o último autor são homens. Além disso, foi concluído que os trabalhos em que esses termos constavam eram 13% mais citados do que os outros, desprovidos da perspectiva otimista.
De acordo com os responsáveis pelo levantamento, há diversos fatores que levam a esse tipo de desigualdade. No entanto, afirmam, é importante ter em mente que a linguagem pode servir como um desses pilares. Uma das teorias que explicam o fenômeno observado é a de que homens se promovam mais porque é mais socialmente aceito que eles o façam do que mulheres, observam os pesquisadores. Além da comunidade científica, outro público que pode ser afetado pelo uso de termos otimistas é o de leitores.